Um homem, vê-se forçado pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá devolvê-lo, mas percebe melhor ainda que ninguém lho emprestará se não se comprometer a saldar a dívida ao fim de um determinado período. Sente-se tentado a fazer essa promessa; mas tem também consciência suficiente para perguntar a si próprio: “ Não será proibido, não será contrário ao dever sair de apuros por este meio? “. Suponhamos que, apesar de tudo, ele opte por esta via; a máxima da sua ação teria este significado: “ Quando estiver com dificuldades de dinheiro peço-o emprestado e prometo devolvê-lo, embora saiba que nunca o farei.” Ora é muito possível que este princípio do amor a si próprio, ou da utilidade pessoal, se concilie com tudo o que venha a ser o meu bem estar futuro; mas de momento a questão está em tentar saber se é um princípio justo. Converto pois a exigência do amor a si mesmo, numa lei universal e ponho-me a questão seguinte: “ Que sucederia se a minha máxima se tornasse uma lei Universal?”.Rapidamente constato que ela nunca poderia ter o valor de uma lei universal da natureza e permanecer em concordância consigo mesma, mas que pelo contrario deveria necessariamente contradizer-se. Pois admitir como uma lei universal que qualquer pessoa que pense esar em dificuldades possa prometer seja lá o que for que lhe ocorra, com a firme intenção de não cumprir essa promessa, seria de facto tornar impossível o prometer, qualquer que fosse a finalidade que nos propuséssemos, visto que ninguém acreditaria no prometido, e que toda a gente riria de tais demonstrações como se de vãos enganos se tratasse."
Immanuel Kant, Fundamentação da metafísica dos costumes, Lisboa Editora, p.93
Obrigado pela publicação.
ResponderEliminarPenso ser pertinente cruzar este exercício centrado na escala pessoal com a escala em que os políticos operam, nomeadamente no prometer coisas e saberem não poder cumprir por não depender só deles e/ou por não depender só do tempo deles.
O atual descrédito de algumas profissões ou setores de atividade entronca muito bem com o fundamento que esta publicação dá a conhecer.
Talvez possamos concluir pela separação entre ética e política. Será desejável? Não, mas também a moralização da política parece-me empobrecedor do verdadeiro exercício político.
ResponderEliminar