quarta-feira, dezembro 02, 2009

A convicção de liberdade

Richard Kalvar, Antuérpia 1938 - EUA

A maior parte dos filósofos pensam que a convicção da liberdade humana está essencialmente ligada ao processo de decisão racional, mas penso que isso é só parcialmente verdadeiro. De facto, ponderar razões é apenas um caso muito especial da experiência que nos fornece a convicção da liberdade. A experiência característica que nos dá a convicção da liberdade humana, e é uma experiência sobre a qual somos incapazes de arrancar a convicção da liberdade, é a experiência de nos empenharmos em acções voluntárias e intencionais. (...) É esta experiência a pedra basilar da nossa crença na liberdade da vontade. Porquê? Reflictamos com todo o cuidado no carácter das experiências que temos quando nos empenhamos nas acções humanas normais da vida de cada dia. Veremos a possibilidade de cursos alternativos de acção incrustados nessas experiências. Levantemos o braço, ou atravessemos a rua, ou bebamos um copo de água e veremos que em qualquer ponto da experiência temos um sentido de cursos alternativos de acção para nós disponíveis.



John Searle, Mente, cérebro e Ciência, Lx, Ed.70, pag 116

2 comentários:

Micael Sousa disse...

A liberdade nem sempre advém da razão, muitas vezes a origem será a simples vontade, o querer. Quantos actos de mais pura liberdade são completamente irracionais? Eu diria que muitos.
A verdadeira liberdade será poder escolher entre a razão e a emoção, apesar de sem sempre isso ser uma escolha verdadeira mente livre pela incapacidade de conseguirmos fazer essa separação.

Helena Serrão disse...

Micael: Obrigada pela sua participação na Logosfera. A convicção da liberdade resulta desse acto decisório de que temos consciência, do qual entre várias alternativas possíveis escolhemos uma, essa convicção psicológica é impossível de afastar ou negar, daí a nossa relutância em aceitarmos que as acções sejam previamente determinadas por causas das quais não temos consciência. Mas a questão da liberdade indissociável da consciência continua a ser difícil de coadunar com a tese de que toda a consciência é produto de processos eléctricos e químicos do cérebro e, como tal sujeita a causas físicas.