quinta-feira, janeiro 15, 2015

EPISTEMOLOGIA: A NECESSIDADE DE JUSTIFICAÇÃO


"Paul sabia que o seu cavalo iria vencer o Derby. Pelo menos, sentia a certeza de saber, e nunca se tinha enganado quando sentira aquela certeza no passado. A convicção de Paul não se baseava no estudo da forma dos cavalos. Nem ele via o futuro na revelação de uma visão. Na verdade, o nome do cavalo surgia quando ele andava no seu cavalinho-de-pau de brinquedo, para o qual ele já estava grande demais. Não que Paul ganhasse todas as apostas (ou aquelas feitas em seu nome pelos adultos que compartilhavam do seu segredo). Às vezes  não tinha tanta certeza, e outras vezes  não tinha a mínima ideia e apenas arriscara. Mas  nunca apostava muito nessas ocasiões. Quando tinha certeza absoluta, entretanto, apostava quase todo o seu dinheiro. O método até agora nunca o havia desapontado. Óscar, um de seus colaboradores adultos, não tinha dúvida de que Paul possuía uma habilidade extraordinária, mas não tinha certeza de que Paul realmente soubesse os vencedores. Não bastava que Paul, até agora, sempre tivesse ganhado. A menos que soubesse porque  tinha acertado, as fundações das suas crenças eram instáveis demais para sustentar o verdadeiro conhecimento. Entretanto, isso não impedia que Óscar apostasse o próprio dinheiro nas dicas de Paul."

Tudo aquilo que sabemos pode ser chamado de conhecimento? Muitas vezes o que, por qualquer motivo que seja, acreditamos ser verdade, não passa de coincidência. Para entrar no campo das certezas, é necessária a comprovação, a justificativa do porquê de ser ou não ser. A crença de Paul, que nunca falhou, é verdade absoluta por ter sido verdade até hoje? É possível provar que o seu cavalo venceria o Derby? Invariavelmente, a resposta para as duas perguntas é não. Mas, na ausência de certezas, ligamo-nos ao que nos parece mais seguro. E apostamos o nosso dinheiro nisso, mesmo que ainda haja dúvida.

O texto foi extraído do livro "O Porco Filósofo". "O vencedor do cavalo-de-pau".

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