O âmbito do raciocínio lógico e matemático é muito vasto e qualquer exemplo particular pode ser indubitável para algumas pessoas, mas não para outras. Um bom exemplo é a contraposição (modus tollens): "se p, então q" mais "não p" implica "não p". Nem toda a gente reconhece essa implicação automaticamente, e algumas pessoas podem ter dificuldade em habituar-se à ideia. No entanto, também este raciocinio não pode ser colocado em questão, nem podemos dar-lhe uma leitura subjectiva por meio de observações psicológicas sobre o modo como foi aprendido ou sobre as variações na sua aceitação ou uso em diferentes grupos. Mesmo alguém que seja algo hesitante na sua aplicação terá de o reconhecer como um princípio que, se for verdadeiro, terá umavalidade universal, e não apenas uma validade de um género local ou perspectívico. Pensar nele como umamera práticaou hábito de pensamento seria compreendê-lo mal - trata-se de um princípio de lógica. Claro que é também um hábito de pensamento (para alguns) e há também questões interessantes sobre as quaus s princípios válidos cujo emprego no nosso pensamento é razo´vel ou mesmo possível em termos práticos, dadas as limitações de tempo e de capacidade mental.Mas pensar na razão como algo abstraído dos fenómenos psicológicos contingentes do racicíniohumano é compreender as coisasa ao contrário. Oj juízo de que é impossível ou inconcebível que as premissas de uma demonstração sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa apoia-se nas nossas caapacidades e incapacidades para conceber diferentes possibilidades, mas não é umjuízo sobre essas capacidades e o seu objecto não é algo que dependa delas.
Isto torna-se claro como água quando seguimos realmente qualquer curso sobre um raciocínio dedutivo irresistível.É o que torna o exemplo platónico do rapaz no Ménon, tão irresistível. Quando Sócrates lhe faz ver que um quadrado com o dobro da área de um dado quadrado tem de ser o quadrado traçado sobre a diagonal deste último, realiza-o por meio de um argumento completamente persuasivo; e reconhecemos o assentimento do rapaz como o produto da validade do argumento, que tanto ele como nós compreendemos: não há sombra de explicação na direção oposta. "
Thomas nagel, A última palavra, (1997), Lx 1999, Gradiva, p.70, 71,72
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