sexta-feira, maio 16, 2025

A arte é ética porque produz bons estados de espírito?

 




David Hocknay, 1972, Retrato da piscina do artista com duas figuras.

“O moralista interroga se a arte é um bem em si mesmo ou um meio para o bem. Antes de respondermos, perguntar-lhe-emos o que quer dizer a palavra “bem”; não porque seja minimamente dúbia, mas para fazê-lo pensar. Na verdade, o Sr. G.E. Moore, demonstrou de uma forma bastante conclusiva na sua obra Principia Ethica que por “bem” todos querem dizer simplesmente bem. Todos sabemos o que queremos dizer embora não saibamos defini-lo. Bem é tão passível de definição como vermelho. No entanto, sabemos perfeitamente o que queremos dizer quando dizemos que uma coisa é “boa” ou “vermelha”.

Quando somos desafiados a justificar a nossa opinião de que algo, que não um estado mental , é bom, nós, sentindo que é um meio apenas, acertadamente procuramos os seus bons efeitos, e a nossa última justificação  é sempre a de que produz bons estados de espírito. Assim, quando nos perguntam porque dizemos que um fertilizante é bom podemos, caso encontremos um ouvinte, mostrar que aquele fertilizante é um meio para boas colheitas, que boas colheitas são meio para comida, que comida é um meio para a vida e que a vida é condição necessária para bons estados de espírito. Não podemos ir mais longe do que isso. Quando perguntam porque consideramos bom um determinado estado mental (o estado de contemplação estética, por exemplo), só podemos responder que a sua benignidade é para nós autoevidente. Alguns estados de consciência parecem bons independentemente das suas consequências. Nenhuma outra coisa parece boa deste modo. Portanto, os bons estados de espírito são por si sós bons como fins.

Clive Bell, Arte, Edições Texto e Grafia, pp75

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