Pergunta: O que é a verdade? Como podemos alguma vez saber que a alcançámos?
Richard Heck: Muitas das questões mais profundas da filosofia são naturalmente expressas sob a forma de questões sobre a verdade. A questão de saber o que é a verdade é, sem dúvida, uma das mais profundas da filosofia. Há vários tipos de respostas: uma proposição é verdadeira se corresponde a um “facto” do mundo; se é coerente com o resto das coisas em que acreditamos; se serve os nossos propósitos práticos; se pode ser verificada com base nas nossas experiências mais imediatas. Todavia, ainda nenhuma destas concepções conquistou a palma, o que levou alguns filósofos a concluírem que a verdade não é uma propriedade muito importante. Voltaremos a eles dentro de instantes.
Podemos ser levados a perguntar o que é verdade por muitas razões diferentes. No caso presente, entendo que a sua preocupação seja a seguinte: se a verdade é uma coisa efectivamente última. Jamais podemos saber se a alcançámos de facto (razão esta que, julgo, não estará longe da que levou Pôncio Pilatos a fazer a pergunta, em João 18,38). Mas, ainda que resida aqui uma preocupação, esta nada tem a ver com a verdade.
A verdade é uma propriedade que algumas proposições possuem e outras não. Pode ser difícil determinar em que campo cai uma dada proposição, mas até aqui podemos ir. A proposição de que Wittgenstein era judeu é verdadeira se Wittgestein era judeu e falsa se Wittgenstein não era judeu. A proposição de que Frege era católico é verdadeira se Frege era católico e falsa se Frege não era católico. Alguns filósofos, ditos “deflacionistas”, defendem que nisto se esgota tudo o que há a dizer sobre a verdade. São os filósofos que consideram que a verdade não é uma propriedade muito interessante. Eu não estou de acordo, embora todos possamos concordar que, mesmo que o acabámos de afirmar não seja tudo o que há a dizer da verdade, é pelo menos parte do que há a dizer sobre a verdade.
Em certo sentido, esta observação – que, em geral, a proposição de que as coisas são desta ou daquela maneira é verdadeira se, e somente se, as coisas são dessa ou daquela maneira já encerra a sugestão de que o facto de que uma proposição ser ou não verdadeira depende do modo como as coisas são no mundo. Por exemplo, a proposição de que Russell era alemão é ou não verdadeira depende de…Russell ser ou não alemão, e esta questão diz respeito ao modo como as coisas são “lá fora”.
Posto isto, como podemos saber se alcançámos a verdade? A maneira óbvia de interpretar a questão é perguntar como podemos saber se, por exemplo, Wittgestein era judeu. Todavia, pelo que acabámos de expor, a questão de saber se é verdade que Wittgestein era judeu é simplesmente a questão de saber se Wittgenstein era judeu. Uma vez aqui chegados, avizinha-se um enorme problema: o problema do cepticismo, que põe em questão se se pode saber o que quer que seja. No entanto, esta questão já não é sobre a verdade – é, em bom rigor, uma questão sobre o conhecimento.