O desejo diz: " Não quereria ter de entrar nesta ordem arriscada do discurso; não quereria estar a contas com ele no que há de cortante e decisivo; quereria que à minha volta fosse tudo transparente e calmo, profundo, indefinidamente aberto, em que os outros respondessem à minha espera, e as verdades nascessem uma a uma; não teria senão de me deixar conduzir nele e por ele, como um destroço feliz."
A instituição responde:" Não tens de temer começar; nós estamos todos aí para te mostrar que o discurso está na ordem das leis; (...) e se lhe acontecer ter algum poder é de nós, e somente de nós que o recebe."
(...)Suponho que em toda a sociedade a produção do discurso é, ao mesmo tempo, controlada seleccionada, organizada e redistribuída por um certo número de processos que têm por fim conjurar-lhe os poderes e os perigos, dominar-lhe o acontecer aleatório, evitar-lhe a pesada, a temível materialidade.
Numa sociedade como a nossa conhecem-se os processos de exclusão. O mais evidente, o mais familiar, é o interdito. Sabe-se que não há o direito de tudo dizer, que não se pode falar de tudo em quaisquer circunstâncias, que qulquer pessoa não pode falar seja do que for."
Michel Foucault, A ordem do Discurso
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