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quarta-feira, março 03, 2010

Pertença

O mundo chama repetidamente o nosso nome. Encontraremos a nossa capacidade de resposta? Nenhuma resposta é dada, tudo é considerado um fardo, fazemos de conta que não ouvimos...garantimos assim o nosso isolamento. Responder à chamada, oferecer repetidas certezas que poderemos estar ligados, este mútuo balanço entre dar e receber acompanha-nos no caminho para casa.
Os filósofos sempre se interessaram pelo modo como os seres vivos se relacionam uns com os outros e com o mundo natural. O que tem mais importância, o indivíduo ou os membros de uma comunidade? Haverá uma razão pela qual eu deva olhar por ti e tu por mim? Devemos alguma coisa ao mundo tal como é? É o isolamento possível, e se for, será desejável? Será que estamos realmente ligados? Será a minha vida enriquecida por pertencer a uma comunidade? Determinados círculos formam connosco uma espécie de coral do conceito de pertença, conversar em conjunto, descobrir a comunidade e repensar a responsabilidade. Para a maioria, isso marca a primeira tentativa para apreender o sentido de capacidade de resposta (response hability).

Marietta McCarty, How philosophy can save your life, Penguin, 2009, London, pp.201,202
tradução de Helena Serrão
fotografia de Abbas Kowsari

terça-feira, fevereiro 02, 2010

A diferença entre necessidade e vontade

Epicuro passou a vida inteira a dissecar o desejo, os seus ensaios continuam a ter uma grande relevância para a vida contemporânea. Ele realçou a distinção crítica entre necessidades e vontades enquanto insistia que faríamos melhor se reconhecêssemos a diferença entre as duas. Epicuro categorizava alguns desejos como naturais, outros como vãos. Por exemplo, é natural querer mover-se de um sítio para o outro. A prudência sugere que tentemos primeiro ir pelos nossos pés e pernas, talvez uma bicicleta, talvez um transporte público ou um carro da comunidade. A vaidade sugere um grande carro com todos os acessórios da moda e que se possa trocar por um novo modelo todos os anos. O desejo de amigos é natural, enquanto aproximar-se na esperança da amizade por uma “pessoa importante” é vão. Epicuro continua a sua cuidadosa dissecação. Entre os desejos naturais, alguns são essenciais enquanto outros são triviais. O desejo por comida é essencial. Podemos imaginar Epicuro num mercado agrícola, comprando o que se produz localmente enquanto encoraja os seus vizinhos a plantarem frutas e vegetais num espaço de terra comunitário. Os restos são bem vindos. Comer a batata e a maçã, com a pele e tudo. Em completo contraste, comprar comida feita, comer mais que o normal, ou fazer do caviar a base da dieta – todas estas práticas reduzem o desejo essencial de sobrevivência a uma trivialidade. Fazer compras numa “ Loja de Conveniência” de comida coloca o sentido de “ Conveniência” e de “Comida” em questão.

Poderemos aprender a discriminar entre desejos naturais e vãos. É simples, Epicuro conclui. “ A saúde exigida pela natureza é limitada e fácil de adquirir, a saúde exigida pela preguiça imagina-se alcançada no infinito. (Doutrinas Principais). Actualmente é fácil, não é?

Marietta Mc Carty, How philosophy can save your life, Penguin, New York, 2009, pp 7, 8
Tradução de Helena serrão
Imagem de um quadro de Severin Kroyer, Festa em Skagen, Noruega 1851/1909