domingo, março 27, 2011

Kant: Será a metafísica uma ciência?


Gérard Castello-Lopes

Kant, no entanto -e este é um dos tópicos fundamentais da sua filosofia - apareceu com uma terceira categoria de juízos, a que chamava " sintéticos a priori". São juízos que dizem algo acerca do mundo e são também necessariamente e universalmente verdadeiros.Estas verdades por definição não poderiam derivar da experiência: não podemos deduzir nada de necessário da experiência. Mas, segundo Kant, se a metafísica for finalmente possível, se pudermos conhecer coisas que vão para além da experiência - acerca de Deus, do universo, da vontade livre, da imortalidade da alma humana - então o nosso conhecimento dessas coisas tem de consistir em juízos "sintéticos a priori."
Esta conclusão, no entanto, parece negar a possibilidade de qualquer metafísica racional, porque os juízos "sintéticos a priori" só podem ser acerca dos possíveis objectos da experiência. A nossa experiência contém elementos passivos e contingentes, mas também elementos necessários: o espaço e o tempo. Espaço e tempo não são entidades autónomas mas construções mentais. podemos representar a ideia de um espaço vazio, mas não podemos conceber objectos materiais fora do espaço, sem características espaciais; também poderemos representar a ideia de um tempo vazio, mas não podemos conceber acontecimentos como tendo lugar fora do tempo. Tempo e espaço são formas necessárias, ou categorias, da nossa experiência.

Leszek Kolakowski, Questions from great philosophers, Penguin, 2007, p.192
Tradução Helena Serrão

sábado, março 26, 2011

obituário

Eduardo Chitas
Nasc. 1937 faleceu a 17 Março 2011
Professor de Filosofia Social e Política (entre outras disciplinas) da Faculdade de Letras de Lisboa

sábado, março 19, 2011

Objecções ao subjectivismo moral

O maior problema consiste no subjectivismo fazer o bem depender completamente do que gostamos. Se "X é um bem" e "Gosto de X" significam a mesma coisa, o seguinte raciocínio é válido:

Gosto de X.

∴ X é um bem.

Suponha por momentos que os amigos irresponsáveis da Ana Subjectivista gostam de se embebedar e magoar pessoas. Poderiam então deduzir que as acções abaixo são um bem:

Gosto de me embebedar e magoar pessoas.

∴ Apanhar bebedeiras e magoar pessoas é um bem.

Robert Longo


Mas este raciocínio não está correcto: a conclusão não se segue da premissa. O subjectivismo oferece-nos uma abordagem demasiado imperfeita da moral, em que apenas fazemos o que gostamos.

Pior ainda, os meus gostos e aversões tornariam as coisas boas ou más. Suponha que gosto de magoar pessoas; isto faria com que fosse um bem magoar pessoas. Imagine que eu gosto de reprovar estudantes apenas pelo prazer que isso provoca; isto faria com que reprovar estudantes apenas pelo gozo se tornasse um bem. Tudo o que me agradasse tornar-se-ia um bem — ainda que eu gostar disso fosse apenas o produto da estupidez e da ignorância.

O racismo fornece-nos um bom teste para as perspectivas éticas. O subjectivismo é insatisfatório neste ponto dado afirmar que fazer sofrer pessoas de outras raças é um bem desde que eu goste de o fazer. Depois, o subjectivismo implica que Hitler disse a verdade quando afirmou "O assassínio dos judeus é um bem" (visto que este enunciado apenas significa que Hitler gostava de matar judeus). O subjectivismo tem implicações inaceitáveis sobre o racismo.

A educação moral dá-nos outro teste. Se aceitarmos o subjectivismo, de que modo educaremos as nossas crianças para pensarem sobre questões morais? Ensiná-las-íamos a seguir os seus sentimentos, a deixarem-se guiar pelos seus gostos e aversões; não lhes forneceríamos um guia para formarem sentimentos responsáveis e sensatos. Ensinaríamos às crianças que "Gosto de magoar pessoas — portanto, magoar pessoas é um bem" é uma forma correcta de raciocinar. O subjectivismo implica também consequências bizarras em educação moral.

Não é difícil expor as debilidades do subjectivismo. Mas, nesse caso, por que razão é tão plausível esta doutrina? Uma das razões é que aquilo de que gostamos corresponde, em geral, ao que pensamos ser um bem. O subjectivismo explica isto: dizer que uma coisa é "boa" significa que gostamos dela. Mas é possível dar outras explicações. Talvez estejamos motivados para gostar daquilo que descobrimos ser um bem (através da razão ou da religião). Portanto, não há apenas uma forma de explicar a ligação entre o que gostamos e o que julgamos um bem.

Harry Gensler,Éthics, A contemporary Introduction, Routledge, 1998
Tradução Paulo Ruas

domingo, março 06, 2011

No reino dos animais

Hoje, prime time na TV,  e a estranha sensação de que o mundo de facto enlouqueceu, melhor, animalizou-se. Sequência de notícias: "Aquele que ousou pôr as patas na política! O cão de Sócrates! A canção que ganhou o festival, 'A Luta é alegria' Então o que sentiu por ganhar este festival? - resposta do homem da luta: pois é!! a malta vai estar dia 12, pá!! contra a reacção!! ehehe, foi o povo que nos deu os votos, pá. (intervalo para publicidade - pingo doce, galinha do campo, criada ao ar livre e com cereais...)
Aqui estão 15 m de Notícias às 20h no Jornal da SIC. É TUDO VERDADE.Nada foi retirado ou inventado, assim foi a sequência.
A alarvisse deve ser consequência da época carnavalesca, ou não? As palavras dos apresentadores eram seguidas de sons de animais. Có có ró có có e ão ão (o cão), para entrar logo depois um tipo de megafone e com pêlos no peito...pá isto e aquilo, o tipo vai representar-nos, soube depois,  na Eurovisão...que se passa??? Serão as audiências? O telejornal transformou-se em Circo? Venha de lá a mulher barbada...

Helena Serrão