Mostrar mensagens com a etiqueta Harry Gensler. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Harry Gensler. Mostrar todas as mensagens

quinta-feira, outubro 24, 2019

Raciocinar

COMO USAM OS FILÓSOFOS AS CELULAZINHAS CINZENTAS
Raciocinar em filosofia é semelhante a raciocinar em outras áreas. Frequentemente raciocinamos acerca de questões como 'Quem cometeu o crime?', 'Que carro comprar?',  'Há um número primo maior do que todos?' ou 'Como curar o cancro?' Ao abordar estes temas, clarificamos as questões e colhemos informação de fundo. Consideramos o que outros disseram sobre o assunto. Consideramos perspectivas alternativas e as objecções a estas. Fazemos distinções e pesamos os prós e contras. O clímax do processo atinge-se quando tomamos posição e tentamos justificá-la. Explicamos que a resposta tem de ser tal e tal e apontamos para outros factos que justificam a nossa resposta. Isto é raciocínio lógico, no qual vamos de premissas para uma conclusão.
Raciocinar logicamente é concluir algo a partir de algo diferente. Por exemplo, concluir que foi o mordomo que cometeu o homicídio a partir das crenças (1) ou foi o mordomo ou a criada e (2) a criada não pode ter sido. Se colocamos o racicínio em palavras temos um argumento - uma série de proposições consistindo em premissas e uma conclusão:

Ou foi o mordomo ou a criada.
A criada não foi.
Logo, foi o mordomo.

[…] Este argumento é válido, o que significa que a conclusão se segue logicamente das premissas. Se as premissas são verdadeiras, então a conclusão tem de ser verdadeira. Portanto, se podemos ter confiança nas premissas, podemos estar confiantes de que foi mordomo que cometeu o crime.
Dizer que um raciocínio é válido é dizer que a conclusão se segue das premissas e não que as premissas são verdadeiras. Para provar algo precisamos, além da validade do argumento, de premissas verdadeiras. Provamos a nossa conclusão se ela se segue logicamente de premissas claramente verdadeiras.  
A filosofia envolve muito raciocínio lógico. A forma mais comum de raciocínio lógico em filosofia consiste em atacar-se uma tese P argumentando que ela conduz ao absurdo Q:

Se P é verdadeiro, então Q também o será.
Q é falso.
Logo, P é falso.

Ao examinarmos uma tese, consideramos as suas implicações e vamos à procura das falhas. Se encontramos implicações claramente falsas, então mostrámos que a tese é falsa; se encontramos implicações altamente duvidosas, então a tese é duvidosa.
Na formação das nossas perspectivas filosóficas são igualmente importantes o raciocínio e o empenho pessoal. O raciocínio só por si não resolve todas as disputas. Uma vez considerados os argumentos de um lado e de outro, temos de tomar uma decisão. Se nos decidimos por uma perspectiva que levanta fortes objecções, temos de estar à altura de lhes responder.

Harry Gensler, Ethics - A Contemporary Introduction. (London & New York, 1998, p. 3). Tradução de Carlos Marques.

quarta-feira, setembro 06, 2017

Raciocinar


COMO USAM OS FILÓSOFOS AS CELULAZINHAS CINZENTAS

Raciocinar em filosofia é semelhante a raciocinar em outras áreas. Frequentemente raciocinamos acerca de questões como 'Quem cometeu o crime?', 'Que carro comprar?',  'Há um número primo maior do que todos?' ou 'Como curar o cancro?' Ao abordar estes temas, clarificamos as questões e colhemos informação de fundo. Consideramos o que outros disseram sobre o assunto. Consideramos perspectivas alternativas e as objecções a estas. Fazemos distinções e pesamos os prós e contras. O clímax do processo atinge-se quando tomamos posição e tentamos justificá-la. Explicamos que a resposta tem de ser tal e tal e apontamos para outros factos que justificam a nossa resposta. Isto é raciocínio lógico, no qual vamos de premissas para uma conclusão.
Raciocinar logicamente é concluir algo a partir de algo diferente. Por exemplo, concluir que foi o mordomo que cometeu o homicídio a partir das crenças (1) ou foi o mordomo ou a criada e (2) a criada não pode ter sido. Se colocamos o racicínio em palavras temos um argumento - uma série de proposições consistindo em premissas e uma conclusão:

Ou foi o mordomo ou a criada.
A criada não foi.
Logo, foi o mordomo.

[…] Este argumento é válido, o que significa que a conclusão se segue logicamente das premissas. Se as premissas são verdadeiras, então a conclusão tem de ser verdadeira. Portanto, se podemos ter confiança nas premissas, podemos estar confiantes de que foi mordomo que cometeu o crime.
Dizer que um raciocínio é válido é dizer que a conclusão se segue das premissas e não que as premissas são verdadeiras. Para provar algo precisamos, além da validade do argumento, de premissas verdadeiras. Provamos a nossa conclusão se ela se segue logicamente de premissas claramente verdadeiras.  
A filosofia envolve muito raciocínio lógico. A forma mais comum de raciocínio lógico em filosofia consiste em atacar-se uma tese P argumentando que ela conduz ao absurdo Q:

Se P é verdadeiro, então Q também o será.
Q é falso.
Logo, P é falso.

Ao examinarmos uma tese, consideramos as suas implicações e vamos à procura das falhas. Se encontramos implicações claramente falsas, então mostrámos que a tese é falsa; se encontramos implicações altamente duvidosas, então a tese é duvidosa.
Na formação das nossas perspectivas filosóficas são igualmente importantes o raciocínio e o empenho pessoal. O raciocínio só por si não resolve todas as disputas. Uma vez considerados os argumentos de um lado e de outro, temos de tomar uma decisão. Se nos decidimos por uma perspectiva que levanta fortes objecções, temos de estar à altura de lhes responder.

Harry Gensler, Ethics - A Contemporary Introduction. (London & New York, 1998, p. 3). Tradução de Carlos Marques.
Tenha em conta as instruções para a realização do resumo (ver no link aulas 10ºAno -15 setembro)

sábado, março 19, 2011

Objecções ao subjectivismo moral

O maior problema consiste no subjectivismo fazer o bem depender completamente do que gostamos. Se "X é um bem" e "Gosto de X" significam a mesma coisa, o seguinte raciocínio é válido:

Gosto de X.

∴ X é um bem.

Suponha por momentos que os amigos irresponsáveis da Ana Subjectivista gostam de se embebedar e magoar pessoas. Poderiam então deduzir que as acções abaixo são um bem:

Gosto de me embebedar e magoar pessoas.

∴ Apanhar bebedeiras e magoar pessoas é um bem.

Robert Longo


Mas este raciocínio não está correcto: a conclusão não se segue da premissa. O subjectivismo oferece-nos uma abordagem demasiado imperfeita da moral, em que apenas fazemos o que gostamos.

Pior ainda, os meus gostos e aversões tornariam as coisas boas ou más. Suponha que gosto de magoar pessoas; isto faria com que fosse um bem magoar pessoas. Imagine que eu gosto de reprovar estudantes apenas pelo prazer que isso provoca; isto faria com que reprovar estudantes apenas pelo gozo se tornasse um bem. Tudo o que me agradasse tornar-se-ia um bem — ainda que eu gostar disso fosse apenas o produto da estupidez e da ignorância.

O racismo fornece-nos um bom teste para as perspectivas éticas. O subjectivismo é insatisfatório neste ponto dado afirmar que fazer sofrer pessoas de outras raças é um bem desde que eu goste de o fazer. Depois, o subjectivismo implica que Hitler disse a verdade quando afirmou "O assassínio dos judeus é um bem" (visto que este enunciado apenas significa que Hitler gostava de matar judeus). O subjectivismo tem implicações inaceitáveis sobre o racismo.

A educação moral dá-nos outro teste. Se aceitarmos o subjectivismo, de que modo educaremos as nossas crianças para pensarem sobre questões morais? Ensiná-las-íamos a seguir os seus sentimentos, a deixarem-se guiar pelos seus gostos e aversões; não lhes forneceríamos um guia para formarem sentimentos responsáveis e sensatos. Ensinaríamos às crianças que "Gosto de magoar pessoas — portanto, magoar pessoas é um bem" é uma forma correcta de raciocinar. O subjectivismo implica também consequências bizarras em educação moral.

Não é difícil expor as debilidades do subjectivismo. Mas, nesse caso, por que razão é tão plausível esta doutrina? Uma das razões é que aquilo de que gostamos corresponde, em geral, ao que pensamos ser um bem. O subjectivismo explica isto: dizer que uma coisa é "boa" significa que gostamos dela. Mas é possível dar outras explicações. Talvez estejamos motivados para gostar daquilo que descobrimos ser um bem (através da razão ou da religião). Portanto, não há apenas uma forma de explicar a ligação entre o que gostamos e o que julgamos um bem.

Harry Gensler,Éthics, A contemporary Introduction, Routledge, 1998
Tradução Paulo Ruas

terça-feira, dezembro 02, 2008

A ÉTICA E A SUA RAZÃO DE SER

FILOSOFIA MORAL
Fazer filosofia moral (ou Ética) é raciocinar sobre as questões fundamentais da moralidade. [Há] duas questões principais:

Metaética
Qual é a natureza dos juízos morais e qual a metodologia que lhes está subjacente?

Ética normativa
Quais os princípios segundo os quais devemos viver?




Consigo lembrar-me de três razões para estudar filosfia moral – para além do facto de muitos de nós a acharem muito interessante.

Harry J. Gensler, Ethics. A Contemporary Introduction (London and New York, 1998, pp. 4-6). Tradução Carlos Marques.

Primeiro, a filosofia moral pode tornar mais profunda a nossa reflexão sobre as questões mais fundamentais da vida. Isto tem valor em si mesmo, independentemente dos seus benefícios práticos. Quem ainda não enfrentou algumas das mais profundas questões da vida não é uma pessoa bem formada.
Segundo, a filosofia moral pode ajudar-nos a pensar melhor sobre a moralidade. Quando fazemos juízos morais estamos implicitamente a pressupor uma certa visão da moralidade ou uma mistura confusa de visões. A nossa visão, boa ou má, defensável ou não, oferece-nos uma perspectiva a partir do qual pensamos e agimos. A filosofia moral pode melhorar a nossa perspectiva, tornando-a mais reflectida e melhor pensada. Pode também melhorar os nossos pensamentos acerca de questões específicas.
À medida que crescemos é-nos dito constantemente o que é bom e o que é mau, o que devemos e o que não devemos fazer. Os nossos pais dizem-no, assim como os nossos professores, amigos e sociedade em geral. Chega um dia em que temos de escolher de entre estes valores e formar as nossas próprias convicções. Mas como podemos fazê-lo da melhor maneira e do modo mais prudente? Esta é a questão central da filosofia moral.
Um terceiro objectivo da filosofia moral é o de aguçar os nossos processos mentais em geral. Quando fazemos filosofia adquirimos aptidões intelectuais importantes. Aprendemos a pensar com rigor sobre questões fundamentais – a compreender e a avaliar pontos de vista em conflito – a expressar as ideias com clareza e a raciocinar cuidadosamente. Estas aptidões são de grande valor para a vida real e a filosofia, como nenhuma outra coisa, pode ajudar ao desenvolvimento destas aptidões.

PORQUÊ ESTUDAR ÉTICA?

A filosofia moral tem assim dois ramos principais.
A metaética estuda a natureza dos juízos morais e a metodologia a estes subjacente. Faz perguntas como: O que significam ‘bem’ e ‘dever’? Há verdades morais? Como podemos justificar e defender racionalmente o que pensamos sobre o que é moral ou imoral?
Uma perspectiva metaética contém normalmente duas partes. Uma delas diz respeito à natureza dos juízos morais e traduz-se habitualmente numa definição de “bem”. A outra parte tem a ver com metodologia, com o modo como os princípios morais são escolhidos. Por exemplo, o relativismo cultural diz:

 “Bom” significa “socialmente aceite.”
 Escolhe os teus princípios morais de acordo com o que é socialmente aceite.

O relativismo cultural baseia a moralidade nas convenções sociais. Outras perspectivas baseiam-na, por exemplo, em sentimentos pessoais, na vontade divina ou em verdades auto-evidentes.
A ética normativa estuda os princípios segundo os quais devemos viver. Faz perguntas como: Quais os princípios básicos do moral e do imoral? Que coisas valem a pena nesta vida? Como deve ser a sociedade justa? O que faz de alguém uma boa pessoa? Quais são os direitos humanos básicos? O aborto é moral ou imoral? A ética normativa tem dois níveis. A teoria normativa procura princípios morais muito gerais, como “Devemos sempre fazer o que maximiza o prazer para o maior número de pessoas.” A ética normativa aplicada estuda questões morais em áreas específicas, como o aborto ou a mentira. Ambos os níveis formulam e defendem princípios morais. Dizem coisas como “Devemos fazer isto e aquilo…”
A metaética é o ramo mais básico da filosofia moral, pois estuda o método que permite determinar quer os princípios morais, quer a ética normativa. (…)