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quarta-feira, abril 17, 2024

A palavra "jogo" e a palavra "arte": sabemos identificar os objetos pertencentes à classe do conceito mas não sabemos identificar uma característica comum a todos os objetos.

 


Fotografia, Helen Bartlett, Londres

E é verdade. – Em vez de mencionar algo que é comum a tudo o que chamamos de linguagem, eu afirmo que essas manifestações nada têm em comum, ainda que para todas empreguemos a mesma palavra, – mas estão mutuamente aparentadas de muitas formas diferentes. E é devido a esse parentesco, ou a esses parentescos, que nós chamamos a todas essas manifestações de “linguagem”. Vou tentar explicar isto.

 Considera, por exemplo, os processos a que chamamos de “jogos”. Quero dizer, jogos de tabuleiro, de carta, com bola, de combate, etc. O que é que é comum a todos eles? – Não respondas: “Tem que haver alguma coisa em comum, senão não se chamariam ‘jogos’” – mas olha, para ver se têm alguma coisa em comum, – Porque, quando olhares para eles não verás de facto o que toos têm em comum, mas parecenças, parentescos, e em grande quantidade. Como foi dito: não penses, olha! – Olha, por exemplo, para os jogos de tabuleiro com os seus múltiplos parentescos. A seguir considera os jogos de cartas: encontras aqui muitas correspondências com a primeira classe, mas desaparecem muitos traços comuns, outros aparecem. Se consideramos a seguir os jogos de bola, então muitas coisas em comum ficam preservadas, mas muitas se perdem. – São todos eles ‘divertidos’? Compara o xadrez com o jogo da cabra cega. Ou há sempre perder e ganhar, ou uma competição entre os jogadores? Pensa nos jogos de paciência. Nos jogos de bola há ganhar e perder; mas quando uma criança atira a bola à parede e depois a apanha, este aspeto desaparece. Olha para o papel que desempenham a habilidade e a sorte. O quão diferente que é a habilidade no jogo de xadrez e no jogo de ténis. Pensa agora nos jogos de andar à roda: Tem-se aqui divertimento, mas desaparecem muitos dos outros traços característicos! E assim podemos percorrer muitos, muitos outros grupos de jogos e ver surgir e desaparecer as suas parecenças.

E o resultado desta investigação é o seguinte: vemos uma complicada rede de parecenças que se sobrepõem e se cruzam mutuamente. Parecenças de conjunto e de pormenor. Eu não poderia caracterizar melhor essas parecenças do que pela expressão “parecenças de família”;39 porque as diversas parecenças entre os membros de uma família: altura, traços faciais, cor dos olhos, andar, temperamento etc., etc. sobrepõem-se e cruzam-se da mesma maneira – E eu direi: os ‘jogos’ constituem uma família.

(…) Como é que explicaríamos então a uma pessoa o que é um jogo? Penso que lhe descreveríamos jogos, e poderíamos acrescentar à descrição: “A isto, e a coisas parecidas chama-se um ‘jogo’”.

Investigações filosóficas (1953), Ludwig Wittgenstein, Lx, 2002, Fundação Calouste Gulbenkian, p.227,228,229

(Este texto resulta da comparação entre a obra mencionada e a edição brasileira, tradução e notas João José R. L. de Almeida)

Esta reflexão poderia aplicar-se a muitas palavras como "Arte"cujo conceito é vago e ilimitado, podendo até dizer-se que por não podermos selecionar características comuns a todas as manifestações artísticas, Arte seria uma palavra sem conceito, como jogo ou beleza, podemos descrever várias manifestações artísticas talvez porque não tendo todas a mesma característica, têm contudo uma parecença de família. Como a beleza, diz algo que nos é familiar, uma experiência que podemos descrever, mas que não podemos definir.

sábado, setembro 29, 2018

O que é a Filosofia? 3 respostas


Violeta Loreti
TEXTO 1

"Os conhecimentos da razão contrapõem-se aos conhecimentos históricos. Aqueles são conhecimentos a partir de princípios; estes, conhecimentos a partir de dados. Porém um conhecimento pode provir da razão e, não obstante, ser histórico; como quando, por exemplo, um simples literato aprende os produtos de uma razão alheia; o seu conhecimento de tais produtos da razão é, assim, simplesmente histórico."

(...) Aquele que quiser aprender a filosofar deve, pelo contrário, encarar todos os sistemas da filosofia apenas como história do uso da razão e como objeto do exercício do seu talento filosófico.

O verdadeiro filósofo tem, portanto, como pensador por si próprio, de fazer um uso livre e próprio, não um uso imitador e servil, da sua razão."



Immanuel Kant, O conceito de filosofia em geral.

TEXTO 2

" O núcleo da filosofia reside em certas questões que o espírito reflexivo humano acha naturalmente enigmáticas, e a melhor maneira de começar o estudo da filosofia é pensar diretamente sobre elas.



(...) A filosofia faz-se colocando questões, argumentando, ensaiando ideias , pensando em argumentos possíveis contra elas e procurando saber como funcionam realmente os nossos conceitos.



A preocupação fundamental da filosofia consiste em questionarmos e compreendermos ideias muito comuns que usamos todos os dias sem pensarmos nela. Um historiador pode perguntar o que aconteceu em determinado momento do passado, mas um filósofo perguntará: 'O que é o tempo?'. Um matemático pode investigar as relações entre os números, mas um filósofo perguntará: 'O que é um número?'. Um físico perguntará de que são constituídos os átomos ou o que explica a gravidade, mas um filósofo irá perguntar como podemos saber que existe qualquer coisa fora das nossas mentes. Um psicólogo pode investigar como é que as crianças aprendem uma linguagem, mas um filósofo perguntará: ' Que faz uma palavra significar qualquer coisa?'



Qualquer pessoa pode perguntar se entrar num cinema sem pagar é correto ou não, mas um filósofo perguntará: 'O que torna uma ação boa ou má?'



Thomas Nagel (1995) Que quer dizer tudo isto? Uma iniciação à filosofia (Lisboa ,Gradiva).

TEXTO 3


"4.11 A totalidade das proposições verdadeiras é toda a ciência natural (ou a totalidade das ciências da natureza).



4.11.1 A Filosofia não é uma das ciências da natureza.



(A palavra filosofia tem de denotar alguma coisa, que está acima ou abaixo das ciências da natureza, mas não ao lado delas).



4.11.2 O objeto da Filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos.



A Filosofia não é uma doutrina, mas uma atividade. Um trabalho filosófico, consiste essencialmente em elucidações.



O resultado da Filosofia não é "proposições filosóficas", mas o esclarecimento de proposições.



A Filosofia deve tornar claros e delimitar rigorosamente os pensamentos, que doutro modo são como que turvos e vagos."





Ludwig Wittgenstein (1987) ,Tratado Lógico-Filosófico, Lisboa, Ed. Fund.Calouste Gulbenkian.


sábado, janeiro 22, 2011

Este é um artigo retirado do Magazine Littéraire dedicado a Wittgenstein, em Março de 97. A autoria é de Paul Audi e as citações que ocorrem de trechos de Wittgenstein são retiradas de edições francesas Gallimard. T remete para o Tractatus .
Esta interpretação é certamente discutível  mas  não há espaço neste post para a confirmar ou refutar, e nem é esse o seu objectivo, o principal interesse  que retemos é a frescura da ideia: A ética é do domínio indizível e traduz-se em acções e paixões que nos fazem felizes.


" O Indizível próprio da esfera da Ética não se dá todavia a ver como reflexo ou indicação, como no caso da 'forma lógica'  na linguagem. Mostra-se na forma de "uma mudança de vida", essa mudança do 'sofrer' no  'regozijar' que o Tractatus  assegura que é a unica forma capaz de afectar a teneur própria do mundo enquanto totalidade limitada, ou dito de outro modo, as suas 'fronteiras'. O que Wittgenstein enuncia nestes termos: 'O mundo do homem feliz é um outro mundo que o do homem infeliz.' (T, 6.43)
É essa mudança efectiva das fronteiras do mundo - o crescimento do mundo no seu conjunto, devido ao bem-estar, a diminuição do mundo que acarreta o mal-estar - é isso que temos de cumprir, mais nada.Tudo o resto escapa-nos."

sexta-feira, fevereiro 12, 2010

Ser ético

Christopher Anderson, moda, 2006

Suponhamos que César Bórgia dizia:  " O meu princípio ético é este: piso tanto quanto posso os dedos dos pés dos outros homens." (...) Princípio ético! Nem tudo é um princípio ético. Como se identifica um princípio ético? Isto levou-nos ao uso do termo "ético". Que nada tem de preciso, evidentemente. Um princípio é ético devido às suas circunstâncias. Que "circunstâncias"? Podemos imaginar "circunstâncias" em que se justifica e se exige que gozemos o sofrimento, o sofrimento dos maus, por exemplo. Seja como for, há concerteza limites para aquilo que é um princípio ético.
(...)
Pelo caminho , enquanto subíamos, ele (Wittgenstein) começou a falar do ensino da ética. Impossível! Considera que a ética diz a alguém o que essa pessoa deve fazer. Mas como poderá seja quem for aconselhar outrem? Imaginemos alguém que aconselha outra pessoa que está apaixonada e prestes a casar-se, indicando-lhe todas as coisas que não poderá fazer se se casar. Que imbecilidade! Como pode alguém saber essas coisas da vida de outro homem?

O.K. Bouwsma, Conversas com Wittgenstein, Relógio d'Água, 2005,p.p.48,91


O conceito de ética presta-se a muitas confusões, a maior das quais reside na amplitude das coisas a que se  refere.Assim, ético é não só o princípio universal ou máxima universal da acção mas também as máximas universalizáveis, isto é, correctas para todos. Resumindo: é ético o que é do domínio dos princípios da acção e também o que são os princípios correctos da acção, o que se refere ao comportamento em geral mas também ao comportamento bom, nesse sentido haverá uma ética boa e uma ética má ou só é ético o comportamento bom ou correcto? O comportamento de um nazi não tem ética ou é eticamente incorrecto? Certamente que obedece a princípios éticos como o exemplo de César Bórgia : "O meu princípio é pisar os dedos dos pés de todos os homens."Será um mau princípio ético ou apenas, não é ético? Ou depende das circunstâncias? Estas e outras questões tornam o ensino da Ética muito complicado.

Helena Serrão

terça-feira, setembro 25, 2007

A Filosofia não é uma doutrina mas uma actividade.


"4.11 A totalidade das proposições verdadeiras é toda a ciência natural (ou a totalidade das ciências da natureza).

4.11.1 A Filosofia não é uma das ciências da natureza.

(A palavra filosofia tem de denotar alguma coisa, que está acima ou abaixo das ciências da natureza, mas não ao lado delas).

4.11.2 O objecto da Filosofia é a clarificação lógica dos pensamentos.

A Filosofia não é uma doutrina, mas uma actividade. Um trabalho filosófico, consiste essencialmente em elucidações.

O resultado da Filosofia não é "proposições filosóficas", mas o esclarecimento de proposições.

A Filosofia deve tornar claros e delimitar rigorosamente os pensamentos, que doutro modo são como que turvos e vagos."


Ludwig Wittgenstein (1987) ,Tratado Lógico-Filosófico, Lisboa, Ed. Fund.Calouste Gulbenkian.