sexta-feira, dezembro 16, 2022

Agir é modificar a face do mundo,

Mariola Landowska, Meninas II,


" Agir é modificar a face do mundo, é dispor dos meios em vista de um fim, é produzir um complexo instrumental e organizado de tal modo que, por uma série de encadeamentos e de ligações, a modificação incutida num dos elos produza modificações em toda a série e, por fim, produza um resultado imprevisto. (...) Convém de facto notar que uma ação é, por princípio, intencional. O fumador desastrado que fez explodir inadvertidamente um paiol não agiu. Em contrapartida, o encarregado de dinamitar uma pedreira e que obedeceu às ordens dadas agiu quando provocou a explosão prevista:  sabia na realidade o que fazia ou, se preferirmos,  realizava intencionalmente um projeto consciente. Isto não significa, claro está, que devamos prever todas as consequências dos nossos atos: o imperador Constantino não previa, ao instalar-se em Bizâncio, que iria criar uma cidade de cultura e de língua gregas, cujo aparecimento haveria de provocar um cisma na Igreja cristã e contribuir para enfraquecer o Império romano. No entanto, fez um ato na medida em que realizou o seu projeto de criar uma nova residência no Oriente para os imperadores.

Toda a ação deve ser intencional: ela deve ter um fim e o fim, por seu turno, refere-se a um motivo. Tal é, na realidade, a unidade dos três momentos temporais: o fim ou futuro implica um movimento (ou móbil) que remete ao meu passado e o presente é o surgimento do ato."

Jean - Paul -Sartre, O ser e o nada, São Paulo, Vozes, s.d