domingo, outubro 25, 2009

Apesar destas conversas televisivas sobre a Filosofia serem habitualmente superficiais porque se destinam a captar a atenção do grande público e para isso "macaqueiam" e simplificam demasiado temas e problemas complexos que a excessiva simplificação pode reduzir a trivialidades, têm contudo o mérito de divulgar alguns aspectos da Filosofia que são curiosos e que podem conduzir a uma boa discussão, ora vejam:


quarta-feira, outubro 21, 2009

Radicalismos 5

CONTRA AS CONVICÇÕES

Não são as ideias nem as decisões que importam -interessam, mas não importam. É a convicção. É o convencimento. Qualquer decisão é mais eficaz do que a inteligência. O pensamento é um luxo e um atraso.
Há uma experiência que estão sempre a repetir. Quando se remove o córtex a um bicho qualquer, ele deixa de pensar e de duvidar; de se sentir seguro ou não; de medir as oportunidades. E qual a consequência? Torna-se imediatamente o chefe dos outros bichos. Os pensadores, no reino animal, são seguidores. Foi o que aconteceu com as pessoas com as piores ideias do século XX: Hitler, Estaline, Mao. Foram as que tiveram mais poder e mais mal fizeram. Porque não hesitavam e o nobre ser humano, hesitante, não resiste a quem não hesita.
Cada vez mais se ouve dizer que qualquer decisão, por muito estúpida ("vou deixar crescer um bigode"), é mais benéfica do que a dúvida mais inteligente. Na verdade, a pessoa inteligente só decide por instantes. A decisão é emitida como os talões de estacionamento. Pode (e deve) mudar a qualquer momento porque, felizmente, nunca se sabe. Aprende-se a não saber. Aprende-se a viver com isso. Aprende-se a ser enganado, de vez em quando, quando se acerta nalguma coisa.
Recuperamos de ter tido razão, naquela vez sem exemplo. Passa-nos. Esquece-nos. A convicção é convincente, mas é perigosa, por ser o contrário da inteligência e da condição humana, que é não ter bem a certeza de quase nada.
Custa - mas assim é que é bonito.
Miguel Esteves Cardoso, in Público 1 de Outubro 2009

terça-feira, outubro 20, 2009

Radicalismos 4

Gustave Courbet, Auto-retrato, França, 1817/1877

Como escapar a esse olhar tenebroso que nos contamina com uma profunda tristeza? Esse olhar virado para dentro, o olhar do indivíduo mal configurado desde a sua origem, esse olhar que é um suspiro deixando entrever como esse homem fala a si próprio. " Gostava tanto de ser outro!" , assim suspira esse olhar. "Mas não há esperança! Sou o que sou: como poderia eu ver-me livre de mim?" É neste terreno do autodesprezo, verdadeiro pântano, que cresce toda a espécie de ervas daninhas, toda a espécie de plantas venenosas, e tudo tão pequeno, tão escondido, tão vil, tão meloso. Aí fermentam os vermes dos sentimentos de vingança e de ressentimento; aí o ar fede a coisas secretas e inconfessáveis; aí é construída a teia da mais abominável conspiração, a conspiração dos sofredores contra os robustos e triunfantes; aí cultiva-se o ódio pelos triunfadores. E que falsidade, para não admitir que esse ódio é ódio! Que edifício de palavras grandiosas, que arte da calúnia "leal"! Que nobre grandiloquência jorra dos lábios destes fracassados! Quanta submissão melíflua, viscosa, obsequiosa, flutua nos seus olhos! Que quer esta gente afinal? Querem ao menos representar a justiça, o amor, a sabedoria, a superioridade...Eis a ambição dessa gente "inferior", dessa gente doente! E que habilidade resulta dessa ambição! Admire-se nomeadamente a habilidade dos produtores de moeda falsa que imitam o cunho da virtude, com todo o pormenor, até no som, aquele tilintar aurífero da virtude.


Friedrich Nietzsche, Para a Genealogia da Moral, Relógio D'Água, Lx, 2000, p. 150
Tradução de Miranda Justo

quarta-feira, outubro 14, 2009

Radicalismos 3

As acusações contra o comunismo que são levantadas sobretudo a partir de pontos de vista religiosos, filosóficos e ideológicos, não merecem discussão pormenorizada. Será preciso uma inteligência profunda para compreender que com as relações de vida dos homens, com as suas ligações sociais, com a sua existência social, mudam também as suas representações, intuições e conceitos, numa palavra, muda também a sua consciência?
Que prova a história das ideias senão que a produção espiritual se reconfigura com a material? As ideias dominantes de um tempo foram sempre apenas as ideias da classe dominante.
Fala-se de ideias que revolucionaram uma sociedade inteira; com isto exprime-se apenas o facto de que no seio da velha sociedade se formaram os elementos de uma sociedade nova, de que a dissolução das velhas ideias acompanha a dissolução das velhas relações de vida.
(…)
“ Mas”, dirão, “ as ideias religiosas, morais, filosóficas, políticas, jurídicas, etc., modificaram-se certamente no decurso do desenvolvimento histórico. A religião, a moral, a filosofia, a política, o direito, mantiveram-se sempre nesta mudança.
“Além disso existem verdades eternas, como Liberdade, Justiça, etc., que são comuns a todos os estádios sociais. Mas o comunismo abole as verdades eternas, abole a religião e a moral em vez de as configurar de novo, contradiz, portanto, todos os desenvolvimentos históricos até aqui.”
A que se reduz esta acusação? A história de toda a sociedade até aqui moveu-se em oposições de classes, as quais nas diversas épocas foram diversamente configuradas.
Mas fosse qual fosse a forma assumida, a exploração de uma parte da sociedade pela outra é um facto comum a todos os séculos passados. Não é de admirar, por isso, que a consciência social de todos os séculos, a despeito de toda a multiplicidade e diversidade, se mova em certas formas comuns, em formas de consciência que só se dissolvem completamente com o desaparecimento total da oposição de classes.
A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações de propriedade legadas; não admira que, no curso do seu desenvolvimento, se rompa da maneira mais radical com as ideias legadas.

Karl Marx, Manifesto do Partido Comunista,


in Marx, Vida, pensamento e Obra, Colecção Grandes Pensadores, Público, p.193,194


Tradução: Editorial Avante

quarta-feira, outubro 07, 2009

Radicalismos 2

Disseste que devemos à literatura praticamente tudo o que somos e o que temos sido. Se os livros desaparecessem, a história desapareceria, e os seres humanos também desapareceriam. Estou certa que tens razão. Os livros não são apenas a soma arbitrária dos nossos sonhos e da nossa memória. Dão-nos também o modelo da auto-transcendência. Alguns pensam ler apenas como uma forma de escape: um escape do mundo “real” de todos os dias, para um mundo imaginário, o mundo dos livros. Os livros são muito mais. São uma forma de ser completamente humano.
Sinto ter de te dizer que os livros são hoje considerados como uma espécie em extinção. Por livros, entendo também as condições de leitura que tornam possível a literatura e os seus efeitos na alma. Em breve, dizem, acederemos a qualquer texto disponível nos "livros on-line" e será possível modificar a sua aparência, colocar-lhe questões, “interagir” com eles. Quando os livros se tornarem “textos” com os quais “interagimos” de acordo com um critério de utilidade, a palavra escrita tornar-se-á simplesmente um outro aspecto da nossa realidade televisiva orientada para a publicidade. Este o glorioso futuro que nos está ser criado e prometido, como algo mais “democrático”. Claro, isso não significa nada menos do que a morte do universo interior– e do livro.


Susan Sontag, A letter to Borges, Junho 1996



in Where the stress falls,Penguin books, 2009, Londres, p.112




Tradução Helena Serrão

terça-feira, outubro 06, 2009

Radicalismos

Ao passarmos os olhos pelas bibliotecas, persuadidos destes princípios, que devastação devemos fazer? Se pegarmos num volume de teologia ou de metafísica escolástica, por exemplo, perguntemos: Contém ele algum raciocínio acerca da quantidade ou do número? Não. Contém ele algum raciocínio experimental relativo à questão de facto e à existência? Não. Lançai-o às chamas, porque só pode conter sofisma e ilusão.


David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Ed.70, Lx, p.156

Que princípios serão esses que justificam a devastação? Sejam eles quais forem não serão suficientes para a justificar. Nenhum princípio parecerá suficientemente forte para justificar o acto, por si, terrível. Ficará contudo a impressão de que não são os livros que se querem queimar mas uma certa forma de os usar para confundir ou atemorizar, contribuindo desse modo para a ignorãncia colectiva.

sábado, outubro 03, 2009

A ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS

Informação recebida da Guerra e Paz Editores

«O mais influente livro de filosofia em língua inglesa da segunda metade do século XX.» (Richard Rorty)

«Um dos 100 livros mais influentes desde a Segunda Guerra Mundial.» (
Times Literary Supplement)


«Por vezes aparece um livro cuja influência vai muito para além do público que visava...
A Estrutura das Revoluções Científicas... é claramente um desses livros.» (Ron Johnston,Times Higher Education Supplement)


O livro: Considerado pelo New York Times um dos 100 livros mais influentes do século, A Estrutura das Revoluções Científicas chega esta semana às livrarias portuguesas.

Concebido originalmente como monografia da
International Encyclopedia of Unified Science, A Estrutura das Revoluções Científicas
acabaria publicado em livro pela editora da Universidade de Chicago em 1962. A obra colocava em causa a assunção generalizada de que toda a mudança científica passa por um processo estritamente racional, tese que influenciou não apenas cientistas das áreas naturais, mas também economistas, historiadores, sociólogos e filósofos,desencadeando um poderoso debate.

Comporta três conceitos fundamentais:
paradigma – termo que aqui se popularizou –, ciência normal e revolução científica. O paradigma
representa um conjunto de teorias, regras e métodos comummente aceites pela comunidade científica. Cada paradigma tem subjacente uma
dada visão do mundo, correspondendo a mudança de paradigma a uma alteração radical dessa visão. A
ciência normal traduz a circunstância em que o paradigma tem a sua vigência. Porém, durante esse período, podem surgir anomalias, que se revelam quando os esquemas explicativos dominantes já não se adequam à realidade. Surge, então, uma nova fase que se materializa numa revolução científica
.

Trata-se de um clássico absoluto na história e filosofia da ciência que vendeu mais de um milhão de exemplares, tornando-se leitura obrigatória em cursos superiores das mais variadas áreas.

O autor: Físico norte-americano nascido em Cincinnati, Thomas Samuel Kuhn (1922 -1996) foi professor emérito de linguística e filosofia noMassachusetts Institute of Technology. Começou por estudar física em Harvard, mas cedo mudou o rumo da sua investigação ao dedicar-se à história e filosofia das ciências. Para além do seu trabalho mais celebrado, A Estrutura das Revoluções Científicas, a sua obra inclui A Tensão Essencial, A Teoria dos Corpos Negros e a DescontinuidadeQuântica, 1894 -1912 e
A Revolução Copernicana.

JÁ NAS LIVRARIAS!!!