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Sinto ter de te dizer que os livros são hoje considerados como uma espécie em extinção. Por livros, entendo também as condições de leitura que tornam possível a literatura e os seus efeitos na alma. Em breve, dizem, acederemos a qualquer texto disponível nos "livros on-line" e será possível modificar a sua aparência, colocar-lhe questões, “interagir” com eles. Quando os livros se tornarem “textos” com os quais “interagimos” de acordo com um critério de utilidade, a palavra escrita tornar-se-á simplesmente um outro aspecto da nossa realidade televisiva orientada para a publicidade. Este o glorioso futuro que nos está ser criado e prometido, como algo mais “democrático”. Claro, isso não significa nada menos do que a morte do universo interior– e do livro.
Susan Sontag, A letter to Borges, Junho 1996
in Where the stress falls,Penguin books, 2009, Londres, p.112
Tradução Helena Serrão
4 comentários:
Belo texto, nada como um bom livro para nos tirar da escuridão do abismo, porem penso que a escuridão do abismo, é essencial para que os livros ganhe asas para voar
Maior valor no seu blog. Hugo Dias Perpétuo.
Hugo: esta carta a Borges é assim como um tributo à obra, aos livros que fazem a obra, e uma demarcação do livro em relação ao texto digital mais acessível e fácil. Será essencial talvez ler Borges, os seus livros e os ensaios da Sontag.
Obrigada pelo comentário, esperemos que a escuridão do abismo nos dê ganas para de lá sair!
Helena Serrão
Muitas vezes me questiono porque é que o progresso é apenas determinadas novas formas de poder fazer as coisas?! Não entendo. Para mim, será também um progresso literário, se se conseguir que os livros vão persistindo e tendo maior quota de mercado do que o simples clique na internet. Porém, esta posição que tomo, ou seja, que defendo a continuidade da forma escrita na literatura, será invariavelmente acusada pelos "progressistas" de ser do tempo da pedra! Estes padrões e estas definições de "Progresso" ainda me fazem muitas confusões, pois não compreendo a autoridade de uns em venderem a sete ventos que aquilo que apresentam (só por ser uma nova forma) é sinónimo de progresso. Por isso, até me explicarem, viverei sem problemas na dita idade da pedra em que alguns dizem que vivo.
Cumprimentos
Alexandre: desculpe o atraso no comentário o que não tem desculpa pois quando o li assaltou-me a vontade de responder. Sim, concordo, nada poderá substituir o livro e o prazer de ler livros, quando falo de livros falo nesses objectos que pegamos na mão, folheamos, sentimos, antes mesmo de nos fazerem disparar o espírito. É o objecto, o seu toque, o seu cheiro que nos prende. O mistério das letrinhas passando nas páginas porosas. Progresso para que vos quero? Há certas coisas que não mudam, são o que são e como são. Não esconjuro a Internet, ela em nada reduziu o gosto pela leitura e pelos livros, pelo contrário.Cumprimentos e boas aulas!
Helena Serrão
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