Foto: Helena Serrão
quinta-feira, setembro 27, 2007
Discutir a existência de Deus
terça-feira, setembro 25, 2007
A Filosofia não é uma doutrina mas uma actividade.
Questões filosóficas
BOM, COMEÇOU O NOVO ANO LECTIVO, DESEJAMOS A TODOS OS QUE NOS VISITAM UM CHOQUE SUAVE! AQUI VAI!
quinta-feira, setembro 20, 2007
Considerações sobre a Arte
" O artista é o criador de coisas belas.
O objectivo da arte é revelar a arte e esconder o artista.
O crítico é aquele que consegue traduzir de uma outra maneira ou em novomaterial a impressão que nele geram as coisas belas.
(...)
A vida moral do homem faz parte da matéria do artista, mas a moralidade da arte consiste no uso perfeito de um meio imperfeito. Nenhum artista pretende provar nada (...)
Nunca um artista é mórbido. O artista pode dar expressão a tudo. O pensamento e a linguagem são instrumentos de arte para o artista. O vício e a virtude sãopara ele matéria de arte.
Toda a Arte é simultaneamente superfície e símbolo.
O que a arte espelha realmente é o espectador e não a vida.
A diversidade de opiniões relativas a uma obra de arte revela que a obra é nova, complexa e vital.
Quando os críticos discordam, está o artista de acordo consigo próprio."
in Oscar Wilde, O retrato de Dorian Gray (prefácio), Col. Livros RTP, Biblioteca Básica Verbo, Lisboa 1971
Texto proposto pela colega de História, Elizabete Fernandes
segunda-feira, setembro 17, 2007
A questão da Arte.
A ave pavonear-se-á em todas as exposições e festas como se fosse o artista em pessoa. É anedótico, insinuando a vaidade do mundo da arte no espírito das velhas fábulas de animais.
Presume-se que alguém estaria à mão para limpar as obras menores que este substituto de artista foi espalhando durante a Bienal. Talvez estas venham a ser exibidas numa futura Bienal.
Alys não é de modo nenhum o primeiro artista a apresentar um animal vivo como uma obra de arte. Por exemplo, Uma Obra de Arte Autêntica de Mark Wallinger (é um cavalo de corrida que já competira). Não se pretende que o nome seja entendido como metáfora. É literalmente uma obra de arte. É um autêntico cavalo de corrida, bem como uma autêntica obra de arte. Pôr um título ao cavalo e publicitar a sua existência desafia a maioria das perspectivas aceites acerca do que é a arte. E esse é, num certo sentido, o objectivo – ou, pelo menos, boa parte dele. Na criação de obras de arte como estas – um género apelidado ‘objectos ansiosos’ pelo crítico de arte Harold Rosenberg – os artistas aproximam-se da condição de filósofos. Vêem os seus predecessores como proponentes de uma teoria da arte que refutam claramente com um contra-exemplo bem escolhido. Com o tempo, tais contra-exemplos são eles próprios absorvidos no mainstream, ao perderem a sua capacidade de chocar. Tornar-se-ão por fim naquilo que uma nova vanguarda porá em causa. Deste modo evolui a arte, em direcções estranhas e imprevisíveis.
Retirado de The Art Question,Nigel Warburton, 2003 (Trad. Carlos Marques)
sexta-feira, setembro 07, 2007
Nada, nem os devaneios mais delirantes, se comparam ao absurdo da realidade. Dizem os antropólogos que a humanidade criou os deuses quando teve consciência da morte. Diante da inaceitável finitude da existência, inventamos um outro mundo para onde iríamos depois deste, e um ser superior que seria o grande maestro do universo, uma espécie de pai que nos afaga a cabeça no meio da noite. Discordo. Acho que Deus surgiu assim que o primeiro homem, diante do fogo, viu o milho virar pipoca. A morte é compreensível, a pipoca não. No momento em que, diante dos olhos estupefactos de um ser peludo, aquelas bolotas amarelas explodiam e se tornaram uma espécie de flor de isopor, mini-cogumelo atómico comestível, “o cara” se deu conta do absurdo do universo e, incapaz de explicar tão bizarro fenómeno, apelou ao sobrenatural. Se a pipoca existe, então tudo é possível.
Digo essas coisas porque costumam comentar que escrevo e falo coisas muito loucas, absurdas. Respondo, em minha defesa que meu pensamento mais desvairado jamais chegará aos pés da “doideira” que é a realidade. Há momentos, inclusive, diante de certos factos que presencio ou notícias que leio, que tenho vontade de desistir. Competindo com a realidade, a literatura sempre será pouco criativa, pálida cópia, sem graça.
Com todas essas ideias na cabeça, sentei-me ontem, diante do computador como de costume. Abri a Internet. A manchete da UOL era: "Milhões de gafanhotos invadem Cairo, no Egipto", e uma foto mostrava a aterrorizante nuvem de insectos, no meio dos prédios. Depois ainda me perguntam de onde tiro as minhas ideias.
Gente, o mundo é muito estranho. Basta olhar as pipocas!!!
Texto retirado de um blog
quinta-feira, setembro 06, 2007
Arte e Moral
Arte e Moral
A questão da arte moral ou imoral – se a arte deve ser “art for art’s sake”, independentemente da moralidade -, apesar de muito simples solução, não tem deixado de ocupar desagradavelmente muito pensador, essencialmente dos que desejam provar que a arte deve ser moral.
Em primeiro lugar demos inteira razão – é evidente que a têm – aos estetas; a arte tem, em si, por fim só a criação de beleza, à parte as considerações de ser moral ou não. Se isto é assim, quem manda pois à arte ser moral? A resposta é simples: a moral. Manda-o a moral porque a moral deve reger todos os actos da nossa vida. Têm errado aqueles que têm querido achar razão, dentro da própria natureza da arte, para a arte ser moral. Não existe essa razão onde a procuraram. A arte, que é arte, tem por fim apenas a beleza. A razão que a manda ser moral existe na moral, que é exterior à estética; existe na natureza humana.
A arte tem duas funções: a feição puramente artística e a feição social. A feição artística é criar a beleza – nada mais.
Fernando Pessoa, Páginas de Estética e de Teoria e Crítica Literárias, p. 55
A VACA NA QUINTA
O agricultor Quintas está preocupado com a sua vaca Cornélia, uma vaca premiada. De facto, está tão preocupado, que quando o homem que trata das suas vacas leiteiras lhe diz que a Cornélia está a pastar feliz e contente na quinta, ele sente a necessidade de o saber ao certo. Não quer apenas assegurar-se a noventa e nove por cento de que Cornélia está em segurança. Quer estar em condições de poder dizer que sabe que Cornélia está bem.
O agricultor Quintas vai à quinta e, colocando-se junto do portão, vê à distância, por detrás de algumas árvores, uma forma branca e preta que reconhece como a sua vaca preferida. Volta para junto do homem que trata das vacas leiteiras e diz ao seu amigo que sabe que a Cornélia está na quinta.
Será que nesta fase o agricultor Quintas o sabe realmente?
O homem que trata das vacas leiteiras diz-lhe que irá também controlar, indo à quinta. Aí encontra Cornélia, a dormir uma sesta numa cova, por detrás de um arbusto, invísivel do portão. Repara também num grande pedaço de papel preto e branco que ficou preso a uma árvore.
Cornélia está no campo, como pensava o agricultor Quintas. Mas tinha ele razão ao dizer que sabia que que era ali que ela estava?
Discussão
Muitas pessoas diriam que, dada a fragilidade humana, é suficiente dizer que sabemos algo se:
. cremos que é o caso;
. temos boa e relevante razão para a nossa crença;
. é de facto o caso.
Isto é o conhecimento como ‘crença verdadeira justificada’.
No entanto, no caso do agricultor Quintas todas estas condições são satisfeitas e, no entanto, podemos ainda sentir que ele não sabe realmente que a Cornélia está na quinta.
Este problema é já referido no Teeteto de Platão (201 c – 210d) e tem causado perplexidades em muitos filósofos desde então expostas numa linguagem um pouco mais formal (…). Neste exemplo, o agricultor Quintas:
. acreditava que a vaca estava em segurança;
. dispunha de evidência de que assim era (a sua crença era justificada);
. e era verdade que a vaca estava em segurança.
Contudo, podemos ter a impressão de que ele não o ‘sabia’ realmente. O que tudo isto sugere é que precisamos de uma definição diferente de ‘conhecimento’. Embora todo o conhecimento tenha de incluir ‘crenças justificadas e verdadeiras’, nem todas as crenças justificadas e verdadeiras parecem ser conhecimento. Muitos filósofos diriam que o que é necessário é uma avaliação mais complicada (!) para contornar este contra-exemplo."
Martin Cohen, 101 Philosophy Problems (3ª ed 2007). Tradução Carlos Marques.