quarta-feira, março 12, 2008

Que Ética?


Edgar Degas, Ballet Clássico, 1881

Seria importante reflectir sobre a forma como Kant concebe a moral. Se à partida o excessivo formalismo parece ser impossível de pôr em prática, como se obedecer ao dever fosse algo que não oferece motivos e, sem motivos, porque devemos agir? Por outro lado pode surgir como uma possibilidade de pensar a moralidade tal como ela deveria ser, como sistema ideal.
Para Kant, a motivação considerada o motor da acção, está ligada ao sentimento e, como tal, não é fiável, porque o sentimento e os interesses mudam ao longo do tempo e de estado de espírito. Não é possível fazer uma lei moral baseada em qualquer tipo de sentimento porque o que caracteriza a lei é a sua universalidade e estabilidade. A "motivação para" pertence ao mundo material e animal e, como tal, não é moral, caracterizando-se a acção moral como aquela que tem um fim em si mesma, pura obediência à representação da lei em nós . Agir moralmente não implica estar motivado para agir bem, ser correcto através da acção correcta, não implica nenhum fim subjectivo mas procurar que a nossa acção corresponda a uma máxima universalizável. Como podemos saber que a máxima é universalizável? Isto é: Para uma acção como "mentir para salvar uma pessoa inocente", a máxima "devemos sempre mentir para salvar uma pessoa inocente" é universalizável, todavia vai contra outra máxima que diz: "Não devemos mentir", e estas máximas são independentes das circunstâncias, logo não podem alterar-se, se "mentirmos para", o fim da nossa acção é salvar um inocente, e portanto não é moral visto que aqui há um motivo que se coloca para lá da simples obediência à lei que diz" Não deves mentir" . Isto não nos parece correcto tão pouco humano, diriamos que há uma indiferença perante as consequências da acção, indiferença essa que torna a acção moral muitas vezes uma acção incorrecta do ponto de vista das consequências nefastas que pode ter para o outro. Num mundo ideal onde ninguém perseguisse inocentes, a Ética de Kant faria todo o sentido, mas no mundo real, a adaptação dos princípios aos fins é, muitas vezes necessária.
Parece pois, possível de ser pensado mas inconcebível do ponto de vista do agir real. Manifestar uma boa vontade, uma vontade absolutamente desligada dos interesses é, na prática um desinteresse pelo destino dos outros que dela dependem, embora a máxima dos fins imponha que os devemos ver sempre como fins e nunca como simples meios. Mas Kant reitera a sua ideia de que o mundo Ético não existe, não só porque os homens não têm boa vontade como a lei de que são legisladores é "a priori" isto é pensada, independentemente do mundo da experiência concreta.Valerá essa forma como padrão ou estará tão desligada da realidade humana,como um idealismo puro, consistente na forma mas independente da realidade e impraticável? Qual será o propósito da Ética e da Moral? Construir um sistema coerente de formas ou reflectir sobre a realidade vivencial?


Helena Serrão

2 comentários:

antónio m p disse...

Eu acho que o propósito da Ética e da Moral é mesmo disciplinar, submeter, controlar os comportamentos sociais lá onde as polícias não podem chegar. Talvez isto se assemelhe a discurso de sindicalista da Polícia que não de filósofo, e daí? Que não são coisas boas, acho que não. Eu mandava-as prender pelo sim pelo não - preventivamente.

MassaMansa disse...

A Immanuel Kant faltou-lhe a experiência de vida, limitada esta a Konigsberg, na Prussia Oriental, nunca se tendo ausentado mais do que 100 quilómetros da cidade, onde nasceu e morreu. O que é que se pode esperar da "Ética" deste onanista primário?