quinta-feira, abril 17, 2008

Da disciplina dos cidadãos


De todos os meios referidos para assegurar a conservação dos regimes políticos, o que se afigura mais importante é o que se encontra hoje menosprezado: a educação cívica.


Na verdade de nada aproveitará uma legislação, por muito útil que seja e aprovada unanimemente por todos os cidadãos, se estes não adquirirem os hábitos nem forem educados segundo o espírito do regime estabelecido.


Com efeito, se a indisciplina é apanágio de um indivíduo, o mesmo se passa na cidade. Educar em conformidade com o regime consiste em atingir não o que satisfaz as veleidades dos oligarcas ou dos partidários da democracia, mas atingir, sim, o que capacita aqueles a governar de modo oligárquico, e estes democraticamente.


No entanto o que vigora hoje nas oligarquias é o esbanjamento em que vivem os filhos dos magistrados; aos filhos dos desfavorecidos só lhes resta entregarem-se a trabalhos árduos e fatigantes (mesmo que sejam mais ambiciosos e capazes de se lançar em reformas).


Mesmo nas democracias que se presumem as mais representativas das massas populares, acaba por acontecer o contrário do que é mais adequado ao interesse comum. A razão é a má compreensão da liberdade. (...) confundem liberdade (eleutheria) com libertinagem.


No regime democrático a justiça parece consistir na igualdade: uma igualdade fundada na opinião da maioria - pois a opinião é considerada suprema - e a liberdade e igualdade de cada um fazer aquilo que muito bem lhe apraz.


Aristóteles, Política, 1310a 10-35
Quadro de Paul Klee

5 comentários:

Anónimo disse...

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MassaMansa disse...

O "Estagirita" resolveu estudar tudo e acabou por não saber de nada. Infelizmente o seu pensamento influenciou profundamente a filosofia e a ciência ocidental na Idade Média e no Renascimento, assim como o traficante influencia o consumidor. A ideia de que uma coisa é capaz de algo só porque é originalmente capaz da sua própria impotência representa uma nulidade de pensamento que, por muito menos, no século vinte levou muitos portugueses a uma estadia no Júlio de Matos.

Anónimo disse...

"A integridade física de Rui Mateus estaria alegadamente ameaçada, havendo fortes indícios de que terão sido feitos contactos com indivíduos ligados ao mundo do crime, para se encarregarem desta «operação» (...). As pressões eram muitas, a começar com as «recomendações de amigo» de Almeida Santos, que o Presidente da República enviara apressadamente de Marrocos e com quem reuniríamos regularmente a partir do dia 17 de Maio em sua casa. Por outro lado eu estava a ser «olhado» como um traidor à causa «soarista» (...).
Rui Mateus

Helena Serrão disse...

caro massamansa: cada um de facto tem a liberdade de dizer o que pensa em liberdade, esse direito é dado pelo princípio da igualdade de opinião que é defendido em Democracia,tal como afirma o texto de Aristóteles e do qual princípio o caro massamansa usufrui hoje negando contudo que aquele que o pensou saiba seja o que for. Não lhe parece uma contradição? Aristóteles está a falr dos exemplos que dão os indíviduos que governam e que muitas vezes os incapacitam de estar nas posições que ocupam porque dão um fraco exemplo de disciplina. Será que leu o texto com atenção? Não me parece, e sendo assim em que se fundamenta a sua opinião?

Helena Serrão disse...

caro julio dantas: não sabemos a que acontecimento se está a referir.