terça-feira, outubro 21, 2008

Descartes e o problema do conhecimento, parte 2 - Empirismo e racionalismo

Descartes usou argumentos [como os do sonho e do demónio enganador] para nos dizer algo importante sobre a natureza da percepção, nomeadamente, que há um fosso – pelo menos potencial – entre a aparência do mundo por ela apresentada e a realidade exterior. Na percepção temos conhecimento dessa aparência imediata e intimamente. Mas o que sabemos da realidade exterior é um outro assunto, mais problemático. A primeira e mais óbvia consequência disto é epistemológica, ou seja, diz respeito à natureza do conhecimento humano. Essa consequência é, na perspectiva de Descartes, não (tal como poderia parecer à primeira vista) que não podemos saber nada de certo, mas antes que o que nós sabemos de certo, seja aquilo que for, não pode na verdade em última análise provir directamente só da experiência perceptiva. Neste aspecto, Descartes opõe-se ao empirismo – a perspectiva segundo a qual todo o conhecimento assenta em última análise nos sentidos. E opõe-se também talvez ao senso comum que diz que os sentidos nos fornecem pelo menos algum conhecimento indubitável, quer formem ou não a base de todo o conhecimento. Descartes defende que o tipo de argumentos considerados até aqui provam que isto não pode ser correcto. Os sentidos por si mesmos são de facto tão fracos que nem podem dizer-nos se estamos acordados. Se possuímos conhecimento (e Descartes pensava que sim), então ele tem de provir de outra fonte, nomeadamente, da pura razão, operando de forma independente dos sentidos - uma perspectiva sobre as bases do conhecimento conhecida por racionalismo.

Edward Feser, Philosophy of mind. A beginner’s guide. (Oxford, 2006). Trad. Carlos Marques.

2 comentários:

Anónimo disse...

Quero dar os parabens por estes post todos referentes a descartes!!!
Deram-me uma valiosa ajuda para o meu trabalho de filosofia!!
É sempre boa a existencia deste tipo de blogs, se nos livros escolares não existe informação, pelo menos locais dedicados a ela e que a fundamentam muito bem
Parabens
Mais uma vez
Obrigado
Isabel

lauramargarida disse...

Este texto vem a comprovar o que demos nas aulas de filosofia. A ideia principal é que nem tudo o que vemos é a realidade exterior. Lembrei-me de um exemplo dado na aula: a Rita viu um cão felpudo, mas pensou que era uma ovelha. Neste caso os sentidos não foram bons para demonstrar a realidade no exterior, por isso devemos sempre nos guiar pela razão e pelo pensamento, esses são mais fiáveis.