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Assim, num só movimento, liberto os ombros do peso de dois fardos: o tempo e as tarefas que teimam em me exigir. Nem a vida é mensurável, nem viver é uma tarefa. O salto do cabrito ou o nascer do sol não são tarefas. Como há-de sê-lo a vida humana - força surda a crescer na dor da perfeição? E o que é perfeito não desempenha tarefas. O que é perfeito labora em estado de repouso. É absurdo pretender que a função do mar seja exibir armadas e golfinhos. Evidentemente que o faz - mas preservando toda a sua liberdade. Que outra tarefa a do homem, senão viver? Faz máquinas? Escreve livros? Faça o que fizer, poderia muito bem fazer outra coisa. Não é isso que importa. Importa é saber-se um fim autónomo, que repousa em si mesmo como uma pedra sobre a areia.
Stig Dagerman (Suécia, 1923/1954), A nossa necessidade de consolo é impossível de satisfazer, Fenda, Lx, 1989, pag. 20 e 21
Tradução do sueco de Paula Castro e João Daniel Ribeiro