Assim, entre a quantidade de grandes virtudes do género Bem, Belo, Verdadeiro, Justo, procuraremos em vão uma minúscula virtude capaz de produzir efeitos magníficos. O BEM, sim, mas como? De que modo? Dissertar com ídolos maiúsculos afasta-nos da realidade que é, no entanto, o terreno de toda a inter subjectividade ética. (...)
A delicadeza fornece a voz de acesso às realizações morais. Pequena porta de um grande castelo, ela conduz directamente ao outro. Que diz? Afirma diante do outro que o vimos. Logo, que ele é. Segurar uma porta, praticar o ritual das fórmulas, perpetuar a lógica das boas maneiras, saber agradecer, acolher, dar, contribuir para uma alegria necessária na comunidade minimal - dois - , eis como fazer ética. criar a moral, incarnar os valores. O saber viver como saber ser.
A civilidade, a gentileza, a doçura, a cortesia, a urbanidade, o tacto, a boa-vontade, a reserva, a complacência, a generosidade, o dom, a despesa, a atenção, tantas variações sobre o tema da moral hedonista. O cálculo hedonista supõe, assim como o cálculo mental, uma prática regular precisamente para gerar a velocidade necessária. Quanto menos praticarmos a gentileza, mais ela se torna difícil de concretizar. Inversamente, quanto mais a activamos, melhor ela funciona. O hábito supõe o adestramento neuronal. Fora do campo ético, não encontramos senão um campo etológico. A indelicadeza caracteriza a selvajaria. As civilizações mais pobres, mais sombrias, mais modestas, dispõem de regras de delicadeza. Só as civilizações divididas, em risco de desaparecer, submetidas por outras mais fortes, praticam a indelicadeza em larga escala
Michel Onfray, La Puissance d'exister, Grasset,Paris, 2006, pp.144,145
Tradução de Helena Serrão
Fotografia: Erich Lessing, Viena, 1923
Maestro Von Karajan conduzindo a orquestra
2 comentários:
Um Feliz Natal com tudo de bom!
Cumprimentos
Obrigada Alexandre! Boas festas!Até logo, em 2010. Bjo
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