sábado, março 13, 2010

Igualdade das mulheres


A independência da mulher parecia menos anti-natural para os gregos do que para outros povos antigos, tomando em conta as fabulosas Amazonas ( que se acreditava serem históricas), e o exemplo parcial dado pelas mulheres espartanas; que apesar de não estarem menos subordinadas à lei que noutros estados, eram de facto mais livres,treinadas para exercícios corporais do mesmo modo que os homens,davam  provas suficientes de que não eram naturalmente desqualificadas para esse tipo de actividades. Não há grandes dúvidas de que  a experiência das mulheres espartanas sugeriu a Platão, entre outras doutrinas, a igualdade social e política entre sexos.
Mas, dírse-ia que a norma dos homens dominarem as mulheres difere de todas estas antigas formas, por não ser feita à força: é aceite voluntariamente; as mulheres não protestam  e são coniventes com isso. Em primeiro lugar: um grande número de mulheres não aceita. Desde que as mulheres começaram a dar a conhecer os seus sentimentos através da escrita ( a única forma de publicidade que a sociedade lhes permite), um número cada vez maior participou em protestos contra a sua presente condição social: e recentemente muitas centenas, encabeçadas pelas mais eminentes mulheres conhecidas do público, elaboraram uma petição  para serem admitidas no sufrágio para o Parlamento.

Stuart Mill, Sobre a liberdade e a sujeição da mulher, Penguin,2006, pp146,147

Tradução Helena Serrão

A sujeição da mulher continua a ser uma expressão da escravatura, do desrespeito e  indiferença por todas as formas de dignidade e liberdade individuais. É exemplo claro de culturas que se recusam a evoluir ou (e esta visão é assustadora) que não interessa que evoluam, seja para as ditas sociedades "evoluídas" para quem os nichos de escravatura - ou em linguagem mercantil: mão de obra barata - são de grande utilidade, seja para prolongar o domínio de políticas ditatoriais e autocráticas. Os direitos das mulheres são os mesmos, ou deveriam ser, os mesmos da humanidade em geral, a sua violação devia ter por parte da comunidade uma intervenção legal -trata-se de direitos - ora essa intervenção legal dos estados não existe. Quem submete ou maltrata um ser humano, não tendo nenhuma autoridade para o fazer, excepto aquela que a comunidade consente em dar-lhe,  torna este consentimento um crime tão grave quanto o da submissão. O consentimento e a impunidade continuam a ser matéria de perplexidade e  motivo para uma luta sem tréguas de todos os que acreditam na igualdade e na liberdade, como valores, independentes dos valores de mercado.

4 comentários:

pbc disse...

A harmonia social e a felicidade individual dependerão mais da competição pela igualdade ou da afirmação da especificidade? Ser igual será melhor que possuir uma identidade própria e distinta? Temos mesmo de fazer as mesmas coisas ao mesmo tempo e da mesma maneira?
Não fez, não faz e jamais fará sentido que haja seres humanos que subjuguem outros seres humanos mas isso nada tem a ver com o genero.
Não devemos ter um olhar sobranceiro sobre culturas que se regem por usos e custumes que não podemos entender e perante as quais nunca faremos entender a nossa.
A harmonia social depende da vontade dos individuos cooperarem no sentido do bem cumum mas o mundo caminha em sentido diverso dessa utupia.

Helena Serrão disse...

olá pbc, há muita crueldade e injustiça sobre as mulheres porque são mais fracas fisicamente e mais vulneráveis socialmente. A igualdade é de direitos, claro, e não é apenas uma questão de Direito, é sobretudo uma forma de compreender a identidade e a individualidade. Há certas culturas que mantém práticas absurdas, cruéis e arbitrárias,o facto de as manterem apesar da contestação interna, mostra como nesses países as mulheres não têm poder económico, daí a vulnerabilidade. Alterar essas condições de vida teria de passar por alterar as condições de vida de todos. Tens razão esse bem comum parece-nos mesmo uma utopia com que apaziguamos a consciência.Obrigada pelo comentário e boa quarta-feira.

Micael Sousa disse...

Os Gregos não defendiam a igualdade de género. Muito pelo contrário, aliás, chamavam à mulher: coisa má bela.
Do que li de Platão, nunca vi nele quaisquer palavras a favor da igualdade de género, muito pelo contrário.

Mas, felizmente, muito se evolui desde os tempos clássicos gregos- Nuns aspectos sim, noutros nem por isso.

No entanto, bom texto, tudo o que promova a igualdade de género deve ser louvado.

Helena Serrão disse...

Micael Sousa: Obrigada pelo seu comentário. De um modo geral a cultura grega dá primazia ao homem sobre a mulher, mas Platão Livro V da "República"afirma: " Logo, não há na administração da cidade nenhuma ocupação, meu amigo, própria da mulher, enquanto mulher, nem do homem, enquanto homem, mas as qualidades naturais estão distribuídas de modo semelhante em ambos os seres..."455d
A possibilidade das mulheres serem melhores que alguns homens e mais aptas para a ginástica ou a medicina está contemplada no discurso de Platão.Até breve
Helena Serrão