Rodney-Smith
Aquele cujo sentimento
pertence ao melancólico não é assim chamado por privar-se das alegrias da vida,
por afligir-se numa sombria melancolia, mas porque os seus sentimentos, caso
ultrapassem um determinado grau ou tomem uma direção equivocada em função de certas
razões, se reportam mais facilmente àquele estado que a outros. Ele possui
sobretudo um sentimento do sublime. Mesmo a beleza, da qual sem dúvida possui o
sentimento, precisa não apenas estimulá-lo, mas antes, visto que ao mesmo tempo
lhe inspira admiração, também deve comovê-lo. Embora desfrute de contentamentos
com mais austeridade, não o faz de maneira inferior. Todas as comoções do
sublime possuem em si mais encanto do que as atrações volteantes do belo. Seu
bem-estar consistirá mais em felicidade que em alegria. Ele é constante. Para
isso, subordina seus sentimentos a princípios. Aqueles são tanto menos
submetidos à inconstância e à mudança quanto mais universal é o princípio ao
qual se subordinam e, portanto, quanto mais abrangente é o sentimento elevado,
que compreende em si os sentimentos inferiores. Todos os fundamentos
particulares das inclinações encontram-se submetidos a muitas exceções e
modificações, caso não sejam derivados de tal princípio superior. O bem
disposto e amistoso Alceste diz: Amo e aprecio a minha mulher, pois é bela,
carinhosa e esperta. Como, porém, amá-la, se fosse desfigurada pela doença, se
tornasse rabugenta com a idade, e, depois de passado o primeiro momento de
admiração, não parecesse mais esperta do que qualquer outra? O que pode
resultar da inclinação, quando o fundamento já não está presente? Tomai, em
contrapartida, o benevolente e firme Adrasto, que diz a si mesmo: Dispensarei
amor e respeito a essa pessoa, pois é minha mulher. Esse caráter é nobre e
generoso. Seja lá como for que se modifiquem os atrativos de ocasião, ela
permanece sempre sua mulher. Mantém-se o fundamento nobre, sem que esteja
submetido à inconstância das coisas exteriores. Tal é a natureza dos princípios
em comparação com as disposições que nos exaltam apenas em ocasiões especiais,
e assim é o homem de princípios, oposto àquele acidentalmente impulsionado por
um movimento bondoso e amoroso. Se, porém, a voz secreta de seu coração
sussurrar: "Preciso ajudar aquele homem, pois ele sofre; não porque seja
meu amigo ou conhecido, ou porque o saiba capaz de retribuir com gratidão ao
benefício. Não é hora de raciocinar e se demorar em perguntas: ele é um homem,
e o que acontece a um homem também me diz respeito". Nesse caso, o seu
comportamento tem por base o mais elevado fundamento da benevolência na
natureza humana, e é sumamente sublime, quer por sua inalterabilidade, quer
pela universalidade da sua aplicação.
Prossigo com minhas
observações. O homem com uma disposição de ânimo melancólica pouco se preocupa
com o que outros julgam bom ou verdadeiro, tomando por base apenas a própria
convicção. Porque nele os fundamentos de ação assumem a natureza de princípios,
não é fácil inculcar-lhe outros pensamentos. A sua firmeza, ocasionalmente,
também degenera em teimosia. Vê a mudança das modas com indiferença, o seu
brilho, com desprezo. A amizade é sublime e, por isso, é própria para o seu
sentimento. Ele pode talvez perder um amigo volúvel; este, porém, não o perde
tão facilmente. Mesmo a recordação de uma amizade passada lhe é digna de
veneração. A conversação é bela, o silêncio pensativo é sublime. Sabe muito bem
guardar segredos, seus ou alheios. A sinceridade é sublime, e ele odeia
mentiras ou fingimento. Possui um elevado sentimento da dignidade da natureza
humana. Aprecia-se a si mesmo, e tem o ser humano como criatura que merece
respeito. Não tolera nenhuma subserviência abjeta, e seu nobre coração respira
a liberdade. Todas as correntes, das douradas que se carregam na corte aos
pesados ferros das galeras de escravos, lhe são abomináveis. É um severo juiz
de si próprio e dos outros, e não raramente se vê enfastiado do mundo.
Curioso seria fazer a comparação entre esta condição humana, esta inevitável melancolia, com a melancolia filosófica expressa por Hume aqui.
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