Paul Gauguim "Cenas da vida no Tahiti
A minha tese é a de que a
moralidade surge quando um grupo de pessoas atinge um acordo implícito ou chega
a um entendimento tácito relativo ao modo como se relacionam uns com os outros.
Parte do que eu quero dizer com isto é que os juízos morais, ou um importante
conjunto deles, só fazem sentido em relação e com referência a um ou outro
acordo ou entendimento. (…) Mas deve ficar claro que pretendo argumentar a
favor de uma versão do que tem sido chamado de relativismo moral. Ao fazer
isso, estou a tomar partido numa controvérsia antiga. (…) Do mesmo modo que o
conceito de grande só faz sentido em relação ou em comparação, o juízo de que
alguém fez algo errado também só faz sentido na relação com um acordo ou entendimento.
Um cão pode ser grande em relação aos chihuahuas e não ser grande em relação à
generalidade dos cães Similarmente, uma acção pode ser errada relativamente a um acordo e não o ser em
relação a outro. Do mesmo modo que não faz sentido perguntar se o cão é grande,
sem mais, também não se pode perguntar
de modo isolado e sem relação com um acordo, se uma acção é errada.
Existe um acordo ou
entendimento, num sentido relevante se cada uma das pessoas que integra um
grupo tem a intenção de aderir a algum programa, plano ou conjunto de
princípios, pressupondo que os outros também têm intenção de o fazer.
Gostaria de dizer breves palavras
sobre o caso limitado da moralidade de um grupo, quando o mesmo tem apenas um
membro; então, por assim dizer, uma
pessoa chega a um entendimento com ela própria (consigo mesma). Na minha opinião,
uma pessoa pode fazer julgamentos internos em relação a si mesmo. A forma
familiar de pacifismo é deste tipo. Alguns pacifistas consideram que seria
errado matarem, embora não estejam dispostos a fazer um juramento semelhante
sobre os outros (…). Há naturalmente, muitos exemplos de moralidade individual
neste sentido, quando uma pessoa impõe padrões a si mesma que não se aplicam
aos outros. A existência de tais exemplos é mais uma confirmação da tese
relativista que eu apresentei.
A minha conclusão é a de que a
moral deriva de um implícito acordo ou entendimento e que os juízos morais são
feitos com relação a esse acordo.
Gilbert Harman (1975), Moral Relativism defended, in The philosophical
Review, vol 84, nº1, pp3-22
Neste ponto de vista se o grupo não chegasse a acordo então não haveria regras, ou vamos limitar o grupo aos que estão de acordo e assim há regras mas só para alguns e os outros formam outras. Não há verdadeiramente tão grande discrepância, ou substancial divergência entre todos sobre certos actos serem errados, objectivamente errados, e portanto a evitar, assim como não há substancial divergência em relação à grandeza dos cães. Um cão grande é facilmente reconhecível por todos, porque há um padrão formado a partir da experiência comum que todos temos sobre a natureza dos cães conhecidos. O facto de poderem existir excepções não altera o que podemos concluir ser o mais comum e constituir o padrão. Do mesmo modo o juízo moral pode estar vinculado a um grupo resultante do acordo tácito entre todos os membros mas isso não significa que por serem praticados e consentidos certos actos no seio desse grupo, que eles sejam correctos moralmente. Ser aceite por um grupo não significa moralmente correcto. O juízo sobre o correcto ou incorrecto não pode ser confinado a um grupo porque a questão moral é uma questão geral, pois qualquer acção de qualquer indivíduo, em qualquer grupo afecta ou pode afectar todos. Imaginemos uma terra onde só existem cães pequenos, raças pequenas. Nessa terra, se não houvesse conhecimento de outras raças chegar-se-ia a pensar que todos os cães são pequenos e o nosso juízo estaria errado.