Os jovens portugueses não gostam muito de Escola, consideram as aulas aborrecidas. Tal é a conclusão de um estudo sobre a adolescência da OMS (VEJA-SE AQUI). Parece-me haver um nó neste estudo, uma contradição natural e prolongada, na reflexão sobre a Escola e as aulas. Consiste esse nó em, por um lado, considerarmos que se tem de gostar para aprender e, por outro, em considerar que aprender requer esforço e nem todos gostam, aliás só alguns (poucos) gostam, a maioria não gosta. A questão parece-me que aponta para dois tipos de ensino: aquele que deve agradar à maioria que não gosta muito de se esforçar nem tem capacidade ou quer aprender coisas complicadas, e tem portanto de ser seduzida de uma forma lúdica para aprender; e um outro ensino para aqueles que são capazes de se esforçar e de estudar mesmo que as matérias não lhes agradem porque querem progredir, querem conhecer, querem ultrapassar obstáculos. Não há volta a dar, um ensino exigente não é compatível como um ensino lúdico, não pode agradar à maioria dos alunos, mas isso não quer necessariamente dizer que se tenha de abandonar a exigência em prol do gosto da maioria, esse é, penso, o perigo que corre a escola pública. Vejo então este estudo como uma insinuação (pouco clara) de que aqui em Portugal estejamos no "mau caminho" quando, na minha opinião, este estudo indica antes que mantemos um certo rigor, que se vai perdendo no ensino público onde está a larga maioria dos adolescentes portugueses. Concluindo. Apesar do que se diz na Suécia e no modelo nórdico idolatrado, nós aqui no sul não somos comparáveis, os adolescentes acharem as aulas aborrecidas não é uma descoberta, como o estudo quer fazer passar, mas um sintoma da própria adolescência no confronto com a exigência do estudo, perder essa exigência e esse confronto é, parece-me, desistir de educar.
Helena Serrão