sexta-feira, outubro 20, 2017

Reflexão sobre as"Aprendizagens essenciais" de Filosofia propostas para o 10ºAno.


Pensar, falar, fazer. O trinómio parece viciado pelo juízo ético e o desperdício. Passo a explicar: há multiplicação de "Falares"e desta multiplicação fica o apagamento da força. Falar era forte quando não se podia dizer, agora ao poder dizer-se, falar parece estratégia de "mais do mesmo" perdendo a sua eficácia, tornando-se coisa para nada. Mas atenção, estou a falar do "falar crítico" que analisa, do falar que se vocaciona para a exceção, para a recusa, é do falar que recusa que estamos fartos.  Não do falar pró-activo, que apresenta soluções, que fala do que faz. Esse desejamo-lo. Ora esse falar que faz ou fez e que vai fazer, apresenta-se sob a forma de "grupinhos de influência" os únicos que têm forma de sair do anonimato e, pelos seus discursos, nos fazerem crer que as coisas são como eles fazem e pouco importa o que digam, pois não parece figurar-se no horizonte alternativa credível. Neste caso, o que parece é: Não há alternativa. Não há outros grupos a fazerem e a dizerem diferente, não existem ou não aparecem. Neste caso o que parece não é. Há de factos muitos a fazerem e a pensar diferente mas não têm visibilidade mediática, logo, não existem.
Certos figurões que pertencem a "grupinhos de influência", ganham visibilidade pela sua azáfama de pequenas formiguinhas obreiras dessas mesmas forças de influência. A metáfora do insecto não é pura coincidência. Trata-se de um reino bem composto de seres minúsculos mas de grande persistência de Fazer.  Seja. Se o pensar é uma incógnita, o que pelo falar se dá do pensar é um discurso de circunstância e de interesse, nada de novo. Assim ficamos limpos para encarar o FAZER como inequivocamente objetivo e transformador.  À incógnita do pensar resta a supremacia do fazer. 
Este preâmbulo introduz o meu ceticismo em relação ao que estou a escrever neste momento, não acredito que tenha consequências senão servir de desabafo a uma anónima mas esforçada professora de filosofia do Ensino Secundário.
Tudo isto por causa das "Aprendizagens essenciais de Filosofia" que duas ou três formigas "iluminadas", das que estão presentes em todos os eventos dignos desse nome e que - por razão obviamente desconhecida - representam a classe dos professores, visualizaram, propuseram, fizeram e lançaram como LEI geral para todos.  Esta lei não representa nada senão os interesses daquele quintal, o que as formiguinhas obreiras possuem e estimam.Ora o que é válido para esse  quintal não é válido para todos os quintais porque há muitos e diferentes quintais. Pensar que sim  é uma falácia e  a pior de todas. É uma generalização apressada. Pois bem, é do que se trata quando vemos que entre todas as aprendizagens possíveis de seleccionar para o 10ºAno, foram seleccionadas as aprendizagens relativas à "Lógica proposicional" que não constam do programa em vigor (embora este não tenha sido oficialmente alterado) e que apenas são essenciais para um quintal determinado vergando-se o termo "essencial" até ao absurdo do " que nos dá jeito". E meu Deus, que afazer frenético, queridas formiguinhas obreiras, a seguir monta-se esquema de Ações de Formação para os desgraçados dos professores para quem a "Lógica proposicional" não é essencial, mas que têm de a aprender mesmo assim, porque sim. É bonito, jeitoso, verdadeiramente plural e bastante rentável.

Helena Serrão

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