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Um concurso foi anunciado para ver quem poderia esculpir(retalhar)
melhor um pedaço de carne. O juiz anunciado fora um famoso Chefe, com duas
estrelas Michelin no seu curriculum. Atraídos pelo prémio em dinheiro, uma
açougueira e um filósofo analítico aderiram ao concurso. O filósofo analítico foi o primeiro. Um pedaço de carne fresco foi colocado na sua
frente numa mesa de madeira, e este aproximou-se para começar. O filósofo
estava vestido com calças chinesas bem passadas e uma camisa de abotoar. Colocando
sobre a mesa uma mala em couro que revelava uma coleção cintilante de bisturis
perfeitamente afiados, o filósofo analítico selecionou cuidadosamente um
dos seus bisturis e, após uma cuidadosa inspeção do pedaço de carne, levantou a
mão e fez o primeiro corte, um corte preciso numa linha reta perfeita.
Trabalhando constantemente, mas com um cuidado meticuloso, procedeu realizando
cortes transversais e perpendiculares até completar a tarefa; empreendimento
que lhe custou uma hora. Quando terminada, o filósofo recuou, limpou o bisturi
com um pedaço de papel toalha, recolocando-o na maleta, e com uma reverência ao
juiz, retirou-se. A açougueira prosseguiu.
O segundo pedaço de carne estava na mesa ao lado daquela onde o filósofo
analítico trabalhara. Ela estava vestida com um fato-macaco e um avental de
açougueiro, no qual manchas e respingos de sangue poderiam ser vistos. Tirou
uma machadinha, um serrote, uma faca afiada de açougue, e começou a trabalhar prontamente
no seu pedaço de carne. Pedaços de gordura e cartilagem voavam para lá e para cá,
sujando o seu avental e mesmo o seu cabelo, o qual ela protegera com
uma touca de rendas. A açougueira assobiava enquanto trabalhava na sua mesa até
que, de repente, colocou sobre a mesa o seu serrote, reverenciou o juiz, e deu
um passo para trás. O juiz examinou cada mesa apenas um momento e, então, sem
a menor hesitação, deu o prémio à açougueira. O filósofo analítico estava
estupefato. “Mas”, protestou, “não há a menor comparação entre os resultados
das duas mesas!. A mesa da açougueira está uma confusão, pedaços de carne,
gordura, pedacinhos de osso e gotas de sangue por todo lado. A minha mesa está
intacta; um cenário cuidadoso de cubos de carne esculpidos perfeitamente, todos
com lados paralelos e do mesmo tamanho. Por qual motivo na terra você deu o
prémio à açougueira?”. O juiz explicou.
“A açougueira transformou o seu pedaço de carne numa série de pedaços de bifes
para churrasco, para assar, cozer e separou uma pequena pilha de sobras para moer.
Ela sabia claramente onde as junções do bife estavam, como cortar contra a
textura nas partes mais duras e onde aplicar o seu serrote. Você, por outro
lado, reduziu o seu pedaço de carne de primeira a carne de guisado”. Moral: Quando for cortar um pedaço de carne é
bom conhecer algo sobre o que se esconde abaixo da sua superfície. Observação:
Essa também não é uma má ideia quando for fazer filosofia.
Parábola de Robert Paul Wolf.
Tradução: Felipe Kauai
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