O pobre corre atrás da galinha.
A galinha, còcòri-pescoceando, foge-lhes sobre
os dois garfos, sobre as duas baquetas
em rajada de baterista. «Vale a pena!
Vale todas as penas!», silva bronquiticamente o
pobre. A galinha derrapa, quilha de rojo.
O pobre joga-lhe para cima o maxi-farrapo da jaqueta.
Falha. Vai de gengivas ao chão. A galinha
reencorpora-se, estica os garfitos, sacode
a asa. Do bico sai-lhe um balão:
QUANDO O POBRE COME GALINHA...
«Isso é um provérbio chinês!, indigna-se,
queixos no pó, o pobre.
E a charlotada termina - quadradinho que
se segue - com a galinha toda coqueta,
afastando-se (à bandarilheiro contemplado
com música?) e fazendo estourar, fumaça de vaidade,
outro balão:
... UM DOS DOIS ESTÁ DOENTE.
Alexandre O'Neill
(em As Horas Já de Números Vestidas - 1981)