domingo, abril 05, 2020

PORTUGUÊS

 

 

Se a língua ganha
a dimensão da escrita
E a escrita toma
a dimensão do mundo
Descer é preciso até ao fundo
na busca das raízes da saliva
que na boca vão misturar tudo
Mas há ainda a pressa do papel
que no tacto navega a brusca seda
Se a sede se disfarça sob a pele
descendo pela escrita essa vereda
E já se inventa
Enlaça
Ou se insinua
Se entrelaça a roca e o bordado
que as palavras tecendo
lado a lado
querem do país a alma nua
Aí podes parar
e retornar à boca
Esse espaço de beijo e de cinzel
Onde a fala retoma a língua toda
trocando a ternura
pelo fel
Um lado após o outro
a dimensão está dita
O tempo a confundir qualquer abraço
entre o visto e o escrito
Espelho e aço
Nesta fundura boa
e mar profundo
Para depois subir a pulso
O mundo

Maria Teresa Horta, 

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