“Estamos, pois, constantemente em busca de uma teoria
verdadeira (uma teoria verdadeira e relevante), ainda que não possamos nunca
dar razões (razões positivas) para mostrar que encontrámos realmente a teoria
verdadeira que buscávamos. Ao mesmo tempo, podemos ter boas razões – isto é,
boas razões críticas – para pensar que aprendemos algo de importante: que
progredimos em direção à verdade. Pois podemos, primeiro, ter aprendido que uma
determinada teoria não é verdadeira segundo o estado presente da discussão
crítica; e, em segundo lugar, podemos ter encontrado algumas razões provisórias
para acreditar (sim, até para acreditar) que uma teoria nova se aproxima mais
da verdade que as suas antecessoras.
Para ser menos abstrato, vou dar um exemplo histórico.
As teorias de Einstein foram muito discutidas pelos
filósofos, mas poucos salientaram o importante facto de que Einstein não
acreditava que a relatividade especial fosse verdadeira: logo desde o início,
ele chamou a atenção para o facto de ela poder ser, quando muito, apenas uma
aproximação (já que era válida apenas para o movimento não-acelerado).
Encaminhou-se, assim, para uma aproximação maior, a relatividade geral. E, mais
uma vez, fez notar, que essa teoria também não podia ser verdadeira, mas sim
somente uma aproximação. De facto, buscou uma melhor aproximação durante quase 40
anos, até à sua morte.(…)
Einstein buscou a verdade, e pensou ter razões -razões
críticas- que lhe indicavam que não a tinha encontrado. Ao mesmo tempo, deu,
ele e muitos outros, razões críticas que indicaram que tinha feito grandes
progressos na direção da verdade que as suas teorias resolviam problemas que as
respetivas antecessoras não eram capazes de resolver, e que se aproximavam mais
da verdade do que as suas rivais conhecidas.
Este exemplo pode apoiar a minha afirmação de que ao
substituir o problema da justificação pelo problema da crítica não precisamos
de abandonar nem a teoria clássica da verdade como correspondência com os
factos, nem a aceitação da verdade como um dos nossos padrões da crítica.
Outros valores são a relevância para os nossos problemas e o poder explicativo.
Por conseguinte, ainda que eu mantenha de que o que é mais
frequente é nós não encontrarmos a verdade, e não sabermos sequer quando é que
a encontrámos, retenho a ideia clássica de verdade absoluta ou objetiva como
ideia reguladora; quer isto dizer, como padrão em relação ao qual nos podemos posicionar
abaixo.”
Karl Popper, O realismo e o objetivo da ciência, Lx, 1992, Dom
Quixote, pp 58,59
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