quarta-feira, dezembro 18, 2024

As inferências lógicas não são psicológicas

 


Thomas Hoepker, Homem na quinta avenida com uma bicicleta adaptada

O âmbito do raciocínio lógico e matemático é muito vasto e qualquer exemplo particular pode ser indubitável para algumas pessoas, mas não para outras. Um bom exemplo é a contraposição (modus tollens): "se p, então q" mais "não p" implica "não p". Nem toda a gente reconhece essa implicação automaticamente, e algumas pessoas podem ter dificuldade em habituar-se à ideia. No entanto, também este raciocinio não pode ser colocado em questão, nem podemos dar-lhe uma leitura subjectiva por meio de observações psicológicas sobre o modo como foi aprendido ou sobre as variações na sua aceitação ou uso em diferentes grupos. Mesmo alguém que seja algo hesitante na sua aplicação terá de o reconhecer como um princípio que, se for verdadeiro, terá umavalidade universal, e não apenas uma validade de um género local ou perspectívico. Pensar nele como umamera práticaou hábito de pensamento seria compreendê-lo mal  - trata-se de um princípio de lógica. Claro que é também um hábito de pensamento (para alguns) e há também questões interessantes sobre as quaus s princípios válidos cujo emprego no nosso pensamento é razo´vel ou mesmo possível em termos práticos, dadas as limitações de tempo e de capacidade mental.Mas   pensar na razão como algo abstraído dos fenómenos psicológicos contingentes do racicíniohumano é compreender as coisasa ao contrário. Oj juízo de que é impossível ou inconcebível que as premissas de uma demonstração sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa apoia-se nas nossas caapacidades e incapacidades para conceber diferentes possibilidades, mas não é umjuízo sobre essas capacidades e o seu objecto não é algo que dependa delas.

Isto torna-se claro como água quando seguimos realmente qualquer curso sobre um raciocínio dedutivo irresistível.É o que torna o exemplo platónico do rapaz no Ménon, tão irresistível. Quando Sócrates lhe faz ver que um quadrado com o dobro da área de um dado quadrado tem de ser o quadrado traçado sobre a diagonal deste último, realiza-o por meio de um argumento completamente persuasivo; e reconhecemos o assentimento do rapaz como o produto da validade do argumento, que tanto ele como nós compreendemos: não há sombra de explicação na direção oposta. "

Thomas nagel, A última palavra, (1997), Lx 1999, Gradiva, p.70, 71,72                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

Faz a simplicidade tornar-se viva

 


Thomas Hoepker, Cinema, Nápoles, 1956

Não peçam aos vossos filhos

que aspirem a ter vidas extraordinárias.

Tal aspiração poderá parecer admirável,

mas é a via dos tolos.

Ajudem-nos, em vez disso, a descobrir o espanto

e a maravilha de uma vida banal.

Mostrem-lhes o gozo de saborear

tomates, maçãs e pêras.

Mostrem-lhes como chorar

aquando da morte de animais de estimação e pessoas.

Mostrem-lhes o prazer infinito

que há no toque de uma mão. 

E façam com que, para eles, o banal se encha de vida.

O extraordinário encarregar-se-á de si mesmo.


William Martin,  (1925/ 2010) 

Tradução de Vasco Gato

domingo, dezembro 01, 2024

Não me interrompam, estou num processo mental!


Ilustração de Madalena Matoso

Uma ideia é uma história de encontros, possibilidades e acasos; é uma experiência que pode demorar anos a concretizar-se e que acontece sempre de forma diferente de pessoa para pessoa. Não é, pois, de estranhar que os investigadores não consigam descobrir a fórmula que leva alguém a ter uma boa ideia (e ainda bem! Porque a fórmula é exatamente o contrário daquilo que a imaginação nos propõe).

No entanto, apesar de não haver um método ou uma fórmula fixa, já se conseguiram identificar algumas etapas ou processos mentais pelos quais todos passamos quando estamos à procura de uma ideia – também já sabemos que por vezes nem parece que estamos à procura e encontramo-la.

Entre quem estuda este tema, são estas as etapas mais ou menos unânimes:

1.       Encontrar a pergunta

2.       Começar a pesquisa

3.       Entrar na fase de fermentação (como o pão)

4.       Disparar ideias

5.       Escolher: esta não, esta sim

6.       Executar e mostrar ao mundo


Isabel Minhós Martins e Madalena Matoso, Como ver coisas invisíveis, Carcavelos, 2021, Planeta Tangerina, p.117