“Na adolescência e no início da idade adulta, a necessidade de aceitação social é maior do que em qualquer outra fase da vida, a integração em grupos de amizade é crucial para o bem-estar psicológico e a pressão para se conformar é particularmente aguda. Pode ser socialmente muito caro para um estudante estar certo se a maioria estiver errada, pelo que é de esperar que as crenças sejam escolhidas acima de tudo com base no seu valor social. Para um académico, o desvio também pode ser dispendioso (impopularidade, cargos desfavoráveis, progressão mais lenta na carreira e no salário, etc.), especialmente porque a publicação de um artigo de investigação está geralmente condicionada à avaliação crítica dos pares, peritos anónimos no mesmo domínio. Por outras palavras, o valor do trabalho de um investigador depende, muitas vezes, diretamente da opinião de outros investigadores. Substituindo o trabalho de equipa pela complacência mútua e a investigação colectiva pela cumplicidade no privilégio, o sistema universitário, observava Revel em 1957, “consegue construir verdadeiros bastiões de estupidez, especialmente em literatura e filosofia, onde tudo é deixado à conceção que os detentores do poder têm do talento”. (…) Os erros, esses, não têm custos: Sowell observa que nunca nenhum académico foi despedido por defender uma teoria que, uma vez aplicada conduzia ao desastre. “ Os académicos não têm de prestar contas ao mundo exterior; é um princípio consagrado chamado “liberdade académica”, graceja. Nestas condições, é possível que alguns investigadores, com cérebros moldados pela evolução para parecerem bem em sociedade, trabalhem para defender as conclusões populares no seu meio, ou pelo menos para produzir trabalhos compatíveis com elas. É então fácil imaginar os múltiplos mecanismos que dão origem a um círculo vicioso suscetível de se autoalimentar; os indivíduos que têm um a priori favorável às opiniões dominantes num certo domínio integram-no de forma desproporcionada; os futuros professores investigadores são formados por orientadores de investigação comprometidos com essas ideias; os dissidentes optam por permanecer cautelosamente em silêncio, levando a maioria dócil a racionalizar as opiniões que lhes parecem não dominantes, mas únicas, e assim por diante.”
Samuel Fitoussi, Porque se enganam os intelectuais, Lx, 2025,Bertrand, pp 92 e 93
Aqui está um livro que incorre no mesmo tipo de erro que pretende imputar aos intelectuais e centros de investigação. Afirmações gratuitas, sem um só caso que as fundamente empiricamente, recurso a autores que corroborem o que é o seu pressuposto sem apresentar qualquer contraditório, linguagem virulenta contra intelectuais e universidades com generalidades com as quais todos podem mostrar-se concordantes, sobretudo os muitos ressentidos que, de algum modo, com ou sem justiça, viram as suas propostas de carreira universitária negadas.
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