" O único que cumpre a sua vontade é aquele que não precisa, para o fazer, de colocar os braços do outro no fim dos seus: de onde se segue que o primeiro de todos os bens não é a autoridade mas a liberdade. O homem verdadeiramente livre não quer senão o que pode, e faz o que lhe agrada. Eis a minha máxima fundamental. Trata-se somente de a aplicar à infância, e derivar, a partir dela, todas as regras da educação.
A sociedade fez o homem mais fraco, não apenas porque lhe tirou o direito que tinha sobre as suas próprias forças, mas sobretudo porque as tornou insuficientes. Eis porque os seus desejos se multiplicam com a sua fraqueza, e eis o que faz em relação à infância, comparada com a idade adulta. Se o homem é um ser forte, e se a criança é fraca, não é porque o primeiro tem mais força absoluta que a segunda, mas porque o primeiro pode naturalmente bastar-se a si próprio e a criança não. O homem deve portanto ter mais vontades, e a criança mais fantasias; palavra que para mim significa todos os desejos que não são verdadeiras necessidades, e que não podemos satisfazer sem o auxílio de outro."
Jean-Jacques Rousseau, Émile ou de L'éducation (ed. Garnier Flammarion, Paris, 1966). Tradução de Helena Serrão
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