quarta-feira, janeiro 30, 2008

Descartes: o método da dúvida e o Cogito.

René Descartes, Franz Hals, Antuérpia, 1580/1666


O 'método da dúvida' de Descartes implica pôr de lado qualquer crença ou conhecimento que admitam a mais pequena dúvida, por mais improvável ou absurda que essa dúvida possa ser, no intuito de ver se resta alguma coisa. Se restar alguma coisa é precisamente porque é invulnerável à dúvida: é certo. Uma vez que o objectivo de Descartes nas Meditações é o de descobrir o que pode ser conhecido com certeza, o método da dúvida é crucial, pois constitui o caminho para o seu objectivo. A tentativa de considerar cada uma das suas crenças ou pretensões de conhecimento e submetê-las a escrutínio seria uma tarefa impossivelmente longa, de modo que Descartes teve necessidade de uma estratégia geral para pôr de lado todo o corpo de crenças dubitáveis. Procurou alcançá-la utilizando argumentos cépticos.
É preciso notar que o uso de argumentos cépticos por parte de Descartes não faz dele um céptico. Longe disso. Ele usa-os meramente como um instrumento heurístico para mostrar que nós possuímos efectivamente conhecimento. Ele é, portanto, um 'céptico metódico' e não um 'céptico problemático', entendo-se por esta última expressão alguém que pensa que os problemas colocados pelos cépticos são sérios e colocam uma genuína ameaça à nossa ambição de adquirir conhecimento. Acontece que, desde o tempo de Descartes, muitos filósofos pensaram que ele não produziu uma resposta adequada às dúvidas cépticas que ele próprio levantou e que, por conseguinte, o cepticismo é deveras um problema. O próprio Descartes não pensava de todo assim.
As considerações cépticas que Descartes usou (…) merecem aqui referência. A primeira delas é a de recordar que os sentidos por vezes nos conduzem no caminho do erro. Equívocos perceptivos, ilusões e alucinações podem levar, e ocasionalmente levam, a crenças falsas. Isto pode fazer com que não depositemos confiança no que pensamos conhecer através da experiência dos sentidos, ou, no mínimo, que sejamos cautelosos antes de confiarmos nela como fonte de verdade. Não obstante, diz Descartes, haverá muita coisa em que eu acredito com base na minha experiência - tal como, por exemplo, que tenho mãos e que estou a segurar um pedaço de papel com elas, que estou sentado numa poltrona defronte de uma lareira, etc. e que duvidar disto seria uma loucura, mesmo dada a falta de fiabilidade dos sentidos. Mas, apesar disso, diz Descartes, continuaria a haver muita coisa em que eu acreditaria com base na minha experiência actual - como, por exemplo, que tenho mãos e que estou a segurar com elas uma folha de papel, que estou sentado numa poltrona em frente da lareira, e assim por diante, coisas das quais seria uma loucura duvidar, não obstante a frequente falta de fiabilidade dos sentidos.
Mas será mesmo loucura duvidar destas coisas? Não, diz Descartes - e aqui ele vem com o seu segundo argumento - porque muitas vezes sonho quando durmo e se estou agora a sonhar que estou sentado em frente à lareira segurando um pedaço de papel, o pensamento de que assim estou é falso. Para estar certo de assim estar teria de poder excluir a possibilidade de estar meramente a sonhar com isso. Como pode isso ser feito? Parece difícil, senão impossível.
Mas se estivermos a dormir e a sonhar, continua ele, poderíamos saber que, por exemplo, um mais um é igual a dois. Na verdade, há muitas destas crenças que mesmo num sonho podemos conhecer como verdadeiras. Por isso, Descartes introduz uma consideração ainda mais extrema: suponha-se que em vez de existir um deus bom que quer que conheçamos a verdade, existe um demónio maligno cujo propósito central fosse o de nos enganar a respeito de todas as coisas, mesmo acerca de 'um mais um é igual a dois' e de todas as outras verdades deste género, aparentemente indubitáveis. Se existisse um tal ser, teríamos uma razão geral para duvidar de todas as coisas de que se pode duvidar. E agora podemos perguntar: supondo que tal ser existe, haverá, não obstante, alguma crença de que eu não possa duvidar, mesmo que o demónio enganador faça com que cada crença que eu tenha seja falsa (se for possível que seja falsa)? E, como sabemos, a resposta é sim, há uma crença indubitável: é a de que eu existo.
Alguns críticos deste procedimento dizem que os argumentos cépticos utilizados por Descartes não funcionam. Criticam os argumentos do sonho e do demónio maligno em vários aspectos - (...) que há na realidade critérios que permitem distinguir o sonho do estado de vigília e que a hipótese do demónio enganador é muito menos plausível do que a maior parte das crenças que ela supostamente coloca em questão (tal como a de que um mais um é igual a dois). Mas são desajustadas estas tentativas para mostrar que o método da dúvida de Descartes não tem pernas para andar. Os argumentos de Descartes podem ser menos plausíveis que aquilo que impugnam, mas isso não é importante. Eles são simplesmente uma ferramenta heurística, algo que nos ajuda a ver o que está em causa quando dizemos que 'Eu existo' não pode deixar de ser verdade. Se, em qualquer caso, o objectivo (…) é o de demonstrar o que pode ser conhecido com certeza, praticamente qualquer instrumento heurístico que torne possível descobrir certezas funcionará igualmente bem.

A. C. Grayling. Descartes (London: Pocket Books, 2005), pp. 281-4. Trad. Carlos Marques.

5 comentários:

Anónimo disse...

li o texto, depois de ir ao apoio foi muito mais facil perceber esta matéria
ass: Patrícia 11ºD

Anónimo disse...

O texto fala sobre o metodo da duvida de descartes, ele poe as certezas ou crenças (como um mais um)em duvida mas ha uma que ele nao pode por, que é "eu existo". Como pode ver li o texto, tpc concluido. Gostei
ass. Bárbara 11ºD

Anónimo disse...

ass.ana sara 11ºD Olá stôra.
já li o texto e o meu comentário é este:
Para expôr as suas ideias,Descartes começa por pôr a maior parte das crenças que constituiam o conhecimento que lhe fora transmitido, o conhecimento dominante da sua época e opiniões que formara com base nos sentidos, na experiência.
Descarte não era céptico, mas usa argumentos cépticos, mas para chegar a uma definição de conhecimento, para chegar a um principio de que o pensamento não possa duvidar ppor ser demasiado evidente, e de que dependerá o conhecimento de tudo o resto, de modo a que nada possa ser conhecido sem ele. Assim Descartes começa por pôr em causa os sentidos, visto que eles nos podem enganar. Depois e continuando a usar o seu principio hiperbolico que orienta a aplicação da dúvida, considera a capacidade de sonhar do homem e p que poderá distinguir o seu sonho da realidade. Mas pondo o caso poderemos sonhar com crenças que consideramos verdadeiras, vai mais longe e argumenta e se existisse um génio maligno em vez de Deus que estende a dúvida inclusivamente ás verdades matemáticas. Chegamos assim ao resultado da aplicação da dúvida: nenhum objecto resistiu ao exame da dúvida. Mas duvidar é um acto e tem de ser exercido por alguém é necessário que exista o sujeito que duvida.de onde chega o cógito: "Penso. logo existo" a primeira verdade, pricipio do sistema do saber.

Anónimo disse...

não entendi Porra nenhuma Leandro 11ºD

Anónimo disse...

Muito bom seu blog!!! Estudo Matemática e esse é meu tema do seminário da aula de filosofia deste semestre. ( Descartes) =)
Agora tenho que descobrir a importância da filosofia na matemática =/ Poderia me ajudar?? Grata!!