O homem activo, agressivo, violento, está sempre cem passos mais próximo da justiça do que o homem reactivo. Porque, precisamente, não tem necessidade de depreciar com falsidade e preconceito o seu objecto, como faz - como é obrigado a fazer - o homem reactivo. E é por isso que, de facto, em todas as épocas, o homem agressivo - o mais forte, o mais corajoso, o de maior nobreza - teve sempre pelo seu lado um olhar mais livre e uma melhor consciência; e, por oposição, é fácil adivinhar quem tem na consciência o peso da invenção da "má consciência"... o homem do ressentimento! Interrogue-se, enfim, a história: qual o terreno em que até hoje a posse do direito e a própria necessidade do direito mostrou estar deveras na sua pátria? Terá sido no terreno do homem reactivo? Nem por sombras...Pelo contrário, foi sempre na esfera do homem activo, vigoroso, espontâneo, agressivo. Para desagrado do agitador acima citado (que um dia fez sobre si próprio a seguinte confissão: "A doutrina da vingança é o fio condutor da justiça que atravessa todos os meus trabalhos e todos os meus esforços."), diga-se que, historicamente o direito representa sempre a luta contra os sentimentos reactivos, a guerra que as forças activas e agressivas lhes moveram usando uma parte do seu vigor para conter a torrente do pathos reactivo dentro de limites comportáveis e para lhe impor um compromisso.Seja onde for que exista o exercício do direito, em qualquer parte do mundo ond reine a justiça, o que se observa é que um poder mais forte, na sua relação com um poder mais fraco (seja o de grupos, seja o de indivíduos), trata de procurar os meios necessários para pôr termo à fúria sem sentido do ressentimento, em parte arrancando o objecto do ressentimento às garras da vingança, em parte subsituindo ele mesmo a vingança pela guerra aberta contra os inimigos da paz e da ordem, em parte, inventando, propondo ou, se necessário impondo compromissos, em parte ainda estabelecendo normas relativas às compensações de danos, de modo a conseguir, de uma vez por todas, remeter para elas o ressentimento.
Friedrich Nietzsche, Para a Genealogia da Moral, Relógio D'Água, Lx
4 comentários:
Nietzsche, para além de ser mais escritor do que filósofo, era um louco. A sua obra é o meu ódio de estimação. Por causa dele,assistimos hoje aos extremos da irracionalidade política teorizados em filosofias antropocêntricas.
Por causa dele, temos que aturar hoje as feministas, sendo que ele não gostava de mulheres. Por causa dele, o homem moderno é obrigado a esconder a sua masculinidade e o thumus anda descontrolado na nossa sociedade, depois do que Hitler fez.
Associar Nietzsche a Hitler revela ignorância total acerca do filósofo. Foi a sua irmã Elisabeth que tentou, anos mais tarde (N. morreu em 1900),pôr a obra dele ao serviço do nacional-socialismo. O senhor Orlando precisa de estudar muito mais.
Os nazis aproveitaram-se do pensamento de Nietzsche para darem um fundamento "espiritual" e "alemão" aos seus crimes. O romance de Thomas Mann, "Doktor Faustus", escrito durante a segunda guerra, o autor tentou ligar a catástrofe da Alemanha à experiência espiritual de Nietzsche. Jaspers que lia Nietzsche de um modo existencialista, quis liga-lo à crise da consciência europeia.O grande Nietzsche foi acima de tudo o primeiro filósofo que conseguiu ultrapassar a Metafísica.
A crítica que o Sr.Orlando faz a Nietzsche não tem qualquer razão de ser, pois os Nazis é que justificaram os seus actos com argumentos de Nietzsche, agora dizer que foi o mesmo que provocou o que aconteceu na Alemanha Nazi...Mas este sentimento contra Nietzsche é comum entre os filósofos e os professores de filosofia que tal como o Orlando, consideram Nietzsche o "mau-da-fita" da filosofia?! Nunca percebi esse rancor? Será porque Nietzsche era um imoralista e como não seguia a "receita" que vinha dos lados de Koningsberg, não podia ser um bom filósofo?!
Cumprimentos
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