sábado, novembro 15, 2008

Mais um discurso sobre a Educação.

As Escolas, a Educação, os professores e os alunos estão a viver um momento talvez decisivo para a forma como se irá delinear o seu futuro. É inegável que qualquer coisa está a acontecer na Europa, é inegável que há mau estar, indefinição, revolta. Urge perguntar: Contra o quê? Porquê? Os meios de comunicação social, os blogues, até o cinema, dão-nos uma catadupa de razões, e ilustram uma escola onde parece que impera o caos e o desgoverno, onde cada um grita para o seu lado, ministra, professores, alunos, jornalistas, presidente, pais, cidadão comum, país enfim! Todos têm uma opinião sobre a Educação e a Escola. Os órgãos representativos das classes, os órgãos representativos do governo, os anónimos, esgrimem pontos de vista em igualdade de circunstâncias! Mas se há vinte anos havia confiança nos órgãos representativos, como os sindicatos, hoje não há. Cada um fala por si e parece representar-se apenas a si próprio. Cada um é, assim, uma espécie de verdade ambulante que fala sem que ninguém o siga. Fala-se, cada discurso alimenta outros discursos e a sua proliferação caótica e indiferenciada produz a sua própria anulação, produz uma espécie de ineficácia, porque não há na maioria dos discursos um comprometimento real com a acção, e só a acção pode mudar o que está mal. O facto de podermos falar livremente das nossas indignações deu-nos uma ilusão de poder, mas em termos de acção real dividiu-nos, separou-nos, a facilidade do discurso não pode enganar-nos acerca do verdadeiro propósito que o move. O propósito não me parece apenas o do direito à indignação, é pouco. Só nos resta ser coerentes e agir, isto é: não cumprir o que está estipulado por decreto.

Helena Serrão

15 comentários:

MassaMansa disse...

Na Alemanha existem escolas de nível regular, médio e máximo. As regulares têm competências reforçadas ao nível do comportamento e integração social e as outras ao nível científico. Os pais têm a opção de escolherem a escola dos seus filhos.O Ministério da Educação e os Professores olham para a população escolar como uma massa uniforme e, a maior parte das vezes, propõem soluções universais para problemas muito diferentes.Mais horas num horário escolar já sobrecarregado é um castigo extra para os alunos que, ao fim do dia, já estão cansados e stressados e só querem ir para casa descansar. A Escola continua a considerar o "erro" como a pior das coisas que pode acontecer ao aluno. E isto inibe a "criatividade". Em adultos não cometerão erros e portanto deixam de ser criativos. No livro "Europa", do polaco Zygmunt Brauman, publicado em 2006 por Jorge Zahar Editor, o autor diz que Portugal perdeu a oportunidade de se tornar no século XVI a potência dominante da Europa, por causa do seu "imobilismo" porque "nunca conseguiu formar, promover nem acolher uma classe "criativa", gente com engenho e iniciativa, preferindo encher-se de "teólogos, militares, senhores feudais e artistas comanditados pelo poder e administradores".

Anónimo disse...

Exactamente.
Anima-me saber que pelo menos alguém tem a noção do que se passa.
Parece que Portugal se perdeu no tempo por causa da educação.
Esta forma de ensino é completamente errada.
Massamansa tens toda a razão.

Carlos Pires disse...

"Só nos resta ser coerentes e agir, isto é: não cumprir o que está estipulado por decreto."

Concordo: eu sou professor, acho que os professores devem ser avaliados, eu quero ser avaliado - mas não desta maneira. Por isso, não entregarei os objectivos individuais.

Patriota disse...

"Para falar ao vento bastam quatro palavras; para falar ao coração são necessárias obras."

(Padre António Vieira)

Unknown disse...

Óptimo blog e óptima parceria!
Ainda tenho muito que explorar neste vosso sítio...
Parabéns!

Gui disse...

No que toca a este assunto, não me vejo no auge das minhas competências cognitivas mas mesmo assim ainda posso dizer algo á cerca disto.
Bom todos os dias nós vemos a cara de exaustão dos nossos professores, é um facto que eles andam com excesso de papelada de baixo do braço, mas pensando bem á uns meses atrás na comunicação social apareceu Governo e Sindicatos a dizerem que tinham chegado a acordo, bom chegar a acordo implica assinar um papel como prova da concordância, posto isto eu pergunto:
De quem será a culpa destes acontecimentos todos, Governo ou Sindicatos?
Para esta pergunta encontro uma resposta os únicos que se manisfestaram contra o acordo mútuo assinado foram os Sindicatos(os próprios que o negociaram), portanto advém-se uma conclusão que a culpa deste processo é única e exclusivamente dos Sindicatos pela sua má negociação e depois quem vem a sofrer com isto tudo são obviamente os professores!
Se querem que vos diga nunca vi o senhor da FENPROF a sair do seu cargo e consta-me que já lá está á uns aninhos, talvez esteja na hora de os professores exigirem uma representação que se possa apelidar de BOA porque a meu ver esta não tem pernas para andar.
A manifestação só ia para a frente com adesão de professores, como houve adesão, a manifestação foi para a frente logo o mérito é dos professores e não dos seus representantes!

Como disse no principio não possuo a maior das faculdades para me debruçar sobre o assunto, por isso gostava de uma resposta ao meu comentário de maneira a ficar mais elucidado sobre o assunto!

Abraços, continuem o excelente trabalho!

Helena Serrão disse...

Caros comentadores, obrigada pelos comentários. Vou aqui alinhavar alguns tópicos de resposta:
1. As críticas à Escola são variadas, de facto parecemos estar todos de comum acordo acerca da Escola ter problemas, não é novidade, o que é discutível e parece sem acordo é o conceito de Escola. Isto é, todos criticamos mas verdadeiramente cada opinião aponta para um conceito de Escola diferente. Uma Escola criativa, onde cada um, através de estratégias diferenciadas poderá desenvolver os seus talentos e a sua autonomia em relação ao saber. Concordo. Mas como conciliar essa liberdade com exames e provas em que cada um deverá possuir saberes fundamentais? Estes saberes fundamentais não exigem disciplina? Quantas críticas derivam da falta de saberes fundamentais dos alunos?
2. É falso que os professores não queiram ser avaliados, da amostra que recolho nas escolas e através de opiniões escritas, todos os professores querem ser avaliados mas eis alguns tópicos contra os quais se manifestam:
a. o facto da sua avaliação positiva depender do número de alunos com sucesso. Haverá uma relação de causa/efeito, entre alunos com sucesso e bom ensino? Pode haver e pode não haver, também podemos cumprir a expectativa e perverter os números. Esse “item” pode converter a avaliação num acto menos sério e sujeito a pressões.
b. Depende também a avaliação do professor dos casos de abandono escolar. Cada turma é heterogénea, deverá o professor ser penalizado porque alguns alunos não querem estudar?
c. Poderemos chegar a fórmulas quantificadas sobre o que se deve ou não fazer para ultrapassar as dificuldades dos alunos? Não estaremos a facilitar o Ensino demasiado de modo a solucionar todas as dificuldades adaptando o critério de exigência consoante o menor ou maior grau de empenho dos alunos. Será isso justo?
d. Por outro lado a existência de professores avaliadores/titulares é feita por decreto e sofre de muitas ambiguidades: professores que irão avaliar matérias que desconhecem, por exemplo um professor de matemática pode avaliar um professor de biologia, um professor com mestrado e mais anos de ensino pode ser avaliado por outro sem mestrado e menos experiência.
e. É certo que os sindicatos têm comandado a luta dos professores, é certo que fizeram um acordo, mas também é certo que esta luta ultrapassa os sindicatos e começa por ser espontânea, só mais tarde os sindicatos a organizaram porque os protestos têm que ser organizados para poderem ter alguma força. Os professores na sua generalidade não se parecem rever nas posições tomadas por sindicatos, traço indiscutível de que alguma coisa terá de mudar na forma de representação das classes trabalhadoras, visto que os interesses de uns e outros nem sempre coincidem.

MassaMansa disse...

"professores que irão avaliar matérias que desconhecem"

É um falso problema, é uma desonestidade intelectual. Ninguém irá avaliar matérias, isso foi feito nas faculdades. Mas sim a dinâmica da aula. A investigação no ensino mostra que o professor mais eficaz é aquele cujo tempo disponível para a prática é maior na sala de aula. Grande parte dos professores fica-se pelo Tempo de Organização e pelo Tempo de Informação. A outra variável implica um grande empenho e criatividade por parte do professor e uma boa formação pedagógica. É aqui que está a grande diferença, e é aqui que ninguém quer ser posto à prova. Têm medo!

Alexandre Poço disse...

Gostava de saber a opinião de professores acerca de um ponto no meio desta polémica que se gerou acerca da Avaliaçao dos Docentes, não poderão os alunos sair prejudicados devido a este braço de ferro entre o corpo docente e o Ministério?

Cumprimentos

Anónimo disse...

Olá
Eu acho que o stor Carlos Marques e/ou Helena Serão têm toda a razão, mas este sistema de ensino não é correcto mas tem estado a evoluir lentamente e é por isso que existem as criticas e reclamações, para a melhora deste sistema.
Embora, este governo perante tantos progressos noutros países consegue retroceder ainda mais com este estúpido tipo de avaliação com estes Idiotas estatutos do aluno e regras completamente parvas(tais como as aulas de substituição, entre outros, em que um professor de uma disciplina muitas das vezes diferente da aula que os alunos deveriam ter, "toma conta" de alunos do SECUNDÁRIO, sendo que se já é dificil manter-se esses alunos numa aula normal, muito mais dificil é, numa aula em que não fazem nada; mais valia mandarem-nos para casa para estudar (ou outra coisa qualquer)),
e esses sistemas de avaliação dos professores que é igualmente Estúpido e Idiota.
Eu sei que é dificil perceber-se que tipo de teste é que deveriamos fazer para cada turma, quanto mais para cada aluno, sendo assim eu acho que se deveria de fazer testes às crianças durante o seu periodo escolar para se perceber o seu tipo de pensamento e raciocinio; e depois juntar as crianças com o mesmo tipo de """"massa cerebral"""", numa turma de maneira a se poder fazer testes do mesmo tipo (isto num estado muito utópico(mas é o futuro)). O que existe hoje em dia dos testes psicotécnicos são uam fantochada total, pois o resultados são muito vagos e muitos deles não se tiram conclusões (no meu caso quem me fez o teste disse que não conseguia perceber para onde é que deveria de ir, nem percebeu o meu "tipo de teste"), e os agrupamentos são uma especie dessas tais "turmas", mas ainda não o são (estão muito longe de o ser), pois dentro de cada área temos muito por onde escolher e muitas das vezes naõ temos média mas temos o perfil para um curso, e quem entra nesses cursos são os que têm maiores notas muitas das vezes os que não têm perfil para nada.

Por muito que se argumente a verdade é que estes nosso sistema é feito para marrões que têm uma capacidade de memória e de velocidade mental (sendo isso algo que não se desenvolve na educação, sendo algo já de nascença) muito rápida que quando chegam ao "Mercado" do trabalho não conseguem fazer nada, pois não têm necessário para serem alguém e essa é uma das razões que fazem com que Portugal esteja tão mal em relação aos outros países.
E enquanto os ex-marrões, marrão em algo em que é necessário inovação, eloquência, compreensão e um grande raciocínio e não chegam a lado nenhum, os que andam a limpar as ruas de Portugal (profissão bastante nobre) são os que deveriam de estar no cargo dos ex-marrões.

Espero que comprendam este texto e que saibam que exagerei em certas partes, mas que não se esqueçam que, isto é, a realidade.

Helena Serrão disse...

AP:Obrigada pelo comentário. Os professores, no que me é dado observar, continuam a cumprir as suas tarefas e a dar o melhor de si mas este estado de indefinição acerca do futuro afecta-os e afecta concerteza a sua concentração. Acredito que se este momento afecta de algum modo o rendimento dos professores, é necessário para delinear um futuro onde esse rendimento poderá ser mais seguro. Trata-se de um sacrifício que todos temos de fazer, compreendendo que será para um futuro melhor.

Afonso Carrêlo: Obrigada pelo comentário. Qualquer sistema de educação tem que ter determinados níveis de exigência que estão estipulados por programas e objectivos. Estes níveis são variáveis consoante os cursos, por exemplo os profissionais e os científicos têm níveis de exigência diferentes.Esses níveis não podem ser individualizados. trata-se de cursos gerais que têm de fornecer um conjunto de competências e conhecimentos gerais. Este princípio parece-me incontornável. por exemplo: Aulas de natação: Para quem quer aprender a nadar. Nível 1. Para quem fazer competição Nível superior.Se a Escola fornecer vários tipos de cursos cada um pode inscrever-se segundo os seus objectivos mas terá sempre de se esforçar para atingir os níveis de exigência. Terá sempre de existir esforço e selecção. Essa selecção não é nociva, pelo contrário, pode ser até um incentivo para cada um tentar ultrapassar as suas próprias limitações.
Helena Serrão

Anónimo disse...

"Se a Escola fornecer vários tipos de cursos cada um pode inscrever-se segundo os seus objectivos mas terá sempre de se esforçar para atingir os níveis de exigência. Terá sempre de existir esforço e selecção. Essa selecção não é nociva, pelo contrário, pode ser até um incentivo para cada um tentar ultrapassar as suas próprias limitações."

Exacto, mas como eu me quis fazer entender "cada macaco no seu galho", pois dessa forma iria colocar cada criança no seu lugar, sendo que cada pessoa iria desempenhar a sua função na sociedade, e é através dessa selecção que todos se iriam esforçar muito mais.

Anónimo disse...

Fui eu que escrevi este último comentário.

Helena Serrão disse...

Caro anónimo (porque não usa um nome?)

Tem razão em salientar uma evidência que hoje quase ninguém quer ver. Refiro-me à inevitabilidade de o ensino ser selectivo. O ensino é por definição selectivo. Há quem aprenda mais e quem aprenda menos. Os motivos dessa diferença são muito variáveis e complexos, mas a realidade permanece. No ensino tem de haver uma escala para aferir o que se aprende. E quando isto é esquecido ou não levado a sério (como infelizmente acontece cada vez mais na escola pública) não há ensino que resista. A falta de credibilidade é a consequência e os diplomas deixam de ter valor. A quem interessa esta situação? Um país que ofereça diplomas a quem não sabe apenas compromete o futuro das suas crianças, atirando-as para a mediocridade. O igualitarismo saloio que não tem em conta o a disciplina, o esforço e o mérito só cria (ou pelo menos mantém as) desigualdades. Como pode alguém de origens humildes sair da sua situação se não for através da educação séria?
Carlo Marques

Anónimo disse...

Claro Claro Claro
Eu apenas quero dizer que o ensino deveria de estar feito de forma diferente não de forma mais fácil. E que cada criança deveria de estar num curso mais respectivo à sua mentalidade, pois somos todos diferentes e cada pessoa tem meios de estar e viver diferentes logo tem ensinos diferentes, eu apenas que cada pessoa vai aprender de maneira diferente, mas vai aprender.
Mas como já disse atrás isto é uma situação bastante utópica.