Ao passarmos os olhos pelas bibliotecas, persuadidos destes princípios, que devastação devemos fazer? Se pegarmos num volume de teologia ou de metafísica escolástica, por exemplo, perguntemos: Contém ele algum raciocínio acerca da quantidade ou do número? Não. Contém ele algum raciocínio experimental relativo à questão de facto e à existência? Não. Lançai-o às chamas, porque só pode conter sofisma e ilusão.
David Hume, Investigação sobre o Entendimento Humano, Ed.70, Lx, p.156
Que princípios serão esses que justificam a devastação? Sejam eles quais forem não serão suficientes para a justificar. Nenhum princípio parecerá suficientemente forte para justificar o acto, por si, terrível. Ficará contudo a impressão de que não são os livros que se querem queimar mas uma certa forma de os usar para confundir ou atemorizar, contribuindo desse modo para a ignorãncia colectiva.
2 comentários:
Como o próprio livro de Hume não contém raciocínio experimental nem matemático, deve também ser deitado às chamas. A posição de Hume é pura e simplesmente estúpida.
Estas posições enfáticas são úteis porque capazes de gerar reacções imediatas e controvérsias que podem conduzir ao debate dado a sua violência e excesso. Esse debate acaba sempre por delinear campos e ser uma oprtunidade para esgrimir argumentos a propósito dos problemas para os quais chamam a atenção. Entendo-as como uma forma de chamar a atenção para certos abusos ou princípios instituídos.
O excesso pode ser uma forma de pensar a medida, desse modo a sua ousadia é também uma dessas formas. obrigada pelo comentário!
Helena Serrão
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