quinta-feira, novembro 26, 2009

Poderemos crer numa religião quando somos filósofos?

Esta oposição automática entre religião e filosofia repousa provavelmente tanto em ideias preconcebidas acerca da religião como da Filosofia. Crer não é necessariamente sinónimo de fé misteriosa absoluta e indubitável. Filosofar não reenvia necessariamente a uma análise exclusivamente racional do real. Podemos crer em Deus " de modo filosófico", por exemplo sabendo incorporar na sua crença uma parte da dúvida que, de Sócrates a Descartes, identifica a atitude filosófica. Encontraremos aí mesmo, como explica Gianni Vatimmo em Depois do Cristianismo, uma barreira contra o fanatismo, intolerância daquele que não suporta a dúvida dos outros porque antes de mais não suporta a sua própria dúvida. Podemos inversamente , "filosofar de modo religioso", por exemplo crendo em certas ideias que não é possível demonstrar racionalmente. Assim encontraremos na Filosofia de Kant três ideias (eu, mundo e Deus), paradoxalmente chamadas "Ideias da Razão"nas quais podemos crer, às quais podemos conceder o nosso crédito, apesar do seu carácter hipotético, e que têm um uso regulador positivo no nosso esforço para conhecer, agir e viver.



Philippe Bardon, Peut on croire à une religion quand on est philosophe? in Philosophie Magazine, Octobre, 2009



Tradução Helena Serrão
Imagem: Cristo de Velazquez

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