O pior par de opostos é o tédio e o terror. Por vezes, a nossa vida é um movimento de pêndulo de um para o outro. O mar não tem uma ruga. Não há nem bafo de vento. As horas são intermináveis. Estamos tão entediados qe nos afundamos num estado de apatia próximo do coma., depois o mar fica agitado e as nossas emoções são empurradas para o frenesim. Mas nem mesmo esse dois opostos permanecem distintos. No nosso tédio há elementos de terror: desfazemo-nos em lágrimas; ficamos apavorados; gritamos; magoamo-nos deliberadamente. E no aperto do terror - a pior tempestade - ainda sentimos tédio, uma profunda saturação com tudo aquilo.
Yann Martel, A vida de Pi, Difel, 2008,Lx, pp.238
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