Portugal tem um digno serviço público de
ensino. Tem fragilidades mas garante uma formação geral que, comparativamente
com outros países como a Inglaterra ou os Estados Unidos, é globalmente boa.
Portugal não tem uma economia que garanta emprego às pessoas, muitos não
arranjam trabalho, acima dos quarenta diria, pelos casos que conheço, é quase
impossível arranjar trabalho. Colocados estes dados, que, penso, são
consensuais, não há nenhum sistema de razões mais poderoso que aquele que nos
permite concluir o seguinte: Primeiro: aumentar as turmas e o horário de alguns
professores, os que estão há mais anos no ensino e, por isso, mais cansados,
para poder despedir com justa causa outros mais jovens mas não tão jovens que
possam arranjar aos trinta e tal anos outro trabalho, é, no mínimo inumano,
ilógico, insustentável.
Segundo: Se o Estado está falido e não tem
dinheiro para pagar aos seus funcionários, faça uma nova gestão do dinheiro que
tem para distribuir e não entre no absurdo capitalista de se considerar como
uma empresa de lucro, como tantas empresas capitalistas. As pessoas, a
educação, a saúde, não são elementos para o lucro capitalista. Não são.Ponto.
Há limites para o absurdo. Criar mais riqueza para criar outros empregos quando
isso implica despedir milhares de pessoas? Não tem sentido. Não tem sentido dar
mais trabalho a uns para tirar trabalho aos outros.Daí que esta greve às
avaliações seja o único instrumento da profissão que permite dar uma resposta a
este absurdo, é uma questão ética e política. Não contem comigo para ser cúmplice
desta pseudo-evidência de que se o barco se afunda, e os botes não chegam para
todos, salvem-se alguns. Corramos todos para os botes. Todos temos esse
direito. Se formos ao fundo, pelo menos vamos com dignidade. Não me quero "salvar" à custa da morte dos outros. A possiblidade deste pensamento dilemático já é um atentado à liberdade e à igualdade. Princípios nos quais acredito e defendo, seja qual for a circunstância.
Helena Serrão
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