Imagina que não conheces o teu lugar na sociedade, a tua classe e estatuto
social, os teus gostos pessoais e as tuas características psicológicas, a tua
sorte na distribuição dos talentos naturais (como a inteligência, a força e a
beleza) e que nem sequer conheces a tua concepção de bem, ignorando que coisas
fazem uma vida valer a pena. Mas não és o único que se encontra nesta posição
original; pelo contrário, todos estão envoltos neste véu de ignorância. Rawls
afirma que esta situação hipotética descreve uma posição inicial de igualdade e
nessa medida este argumento junta-se ao argumento intuitivo da igualdade de
oportunidades. Ambos procuram defender a concepção de igualdade que melhor dá
conta das nossas intuições de igualdade e justiça. De seguida, Rawls levanta a
questão central: Que princípios de justiça seriam escolhidos por detrás deste
véu de ignorância? Aqueles que as pessoas aceitariam contando que não teriam
maneira de saber se seriam ou não favorecidas pelas contingências sociais ou
naturais. Nessa medida, a posição original diz-nos que é razoável aceitar que
ninguém deve ser favorecido ou desfavorecido.
Apesar de não sabermos qual será a nossa posição na sociedade e que
objectivos teremos, há coisas que qualquer vida boa exige. Poderás ter uma vida
boa como arquitecto ou poderás ter uma vida boa como mecânico e parece óbvio
que estas vidas particulares serão bastante diferentes. Mas para serem ambas
vidas boas há coisas que terão de estar presentes em qualquer uma delas, assim
como em qualquer vida boa. A estas coisas Rawls chama bens primários. Há dois
tipos de bens primários, os sociais e os naturais. Os bens primários sociais
são directamente distribuídos pelas instituições sociais e incluem o rendimento
e a riqueza, as oportunidades e os poderes, e os direitos e as liberdades. Os
bens primários naturais são influenciados, mas não directamente distribuídos,
pelas instituições sociais e incluem a saúde, a inteligência, o vigor, a
imaginação e os talentos naturais. Podes achar estranho que as instituições
sociais distribuam directamente rendimento e riqueza, mas segundo Rawls as
empresas são instituições sociais.
Ora, sob o véu de ignorância, as pessoas querem princípios de justiça que
lhes permitam ter o melhor acesso possível aos bens sociais primários. E, como
não sabem que posição têm na sociedade, identificam-se com qualquer outra
pessoa e imaginam-se no lugar dela. Desse modo, o que promove o bem de uma
pessoa é o que promove o bem de todos e garante-se a imparcialidade. O véu de
ignorância é assim um teste intuitivo de justiça: se queremos assegurar uma
distribuição justa de peixe por três famílias, a pessoa que faz a distribuição
não pode saber que parte terá; se queremos assegurar um jogo de futebol justo,
a pessoa que estabelece as regras não pode saber se a sua equipa está a fazer
um bom campeonato ou não. Imagina os seguintes padrões de distribuição de bens
sociais primários em mundos só com três pessoas:
Mundo 1: 9, 8, 3;
Mundo 2: 10, 7, 2;
Mundo 3: 6, 5, 5.
Mundo 2: 10, 7, 2;
Mundo 3: 6, 5, 5.
Qual destes mundos garante o melhor acesso possível aos bens em questão?
Lembra-te que te encontras envolto no véu de ignorância. Arriscas ou jogas pelo
seguro? Tentas maximizar o melhor resultado possível ou tentas maximizar o pior
resultado possível? Rawls responde que a tua intuição de justiça te conduzirá
ao mundo 3. A escolha racional será essa. A estratégia de Rawls é conhecida
como "maximin", dado que procura maximizar o mínimo.
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