A filosofia da existência não se opõe ao pensamento,
contanto que este pensamento seja intenso e apaixonado. Recordemos que
Kierkegaard definiu a existência, na medida em que pode ser definida, como uma
energia de pensamento. Podemos mesmo dizer que o pensamento existencial é
reflexão; não é verdade que a reflexão sufoque a originalidade: pode aguçá-la;
e Kierkegaard quererá unir a reflexão ao caráter autêntico, originário do
pensamento naquilo a que ele chama um sério imediato, uma juventude séria, uma
primitividade adquirida, uma imediação amadurecida. Sem dúvida, em certos
momentos, ele diz, para se opor aos cartesianos: «Quanto mais penso, menos sou,
e quanto mais sou, menos penso»; e não é menos verdade que só há real
existência se houver a reflexão da existência. Há aqui dois termos
anti-téticos; há uma luta de morte entre o pensamento e a existência; mas esta
luta de morte constitui precisamente a existência. Kierkegaard diz: «Se eu
penso a existência, eu abulo-a. Mas aquele que a pensa existe. A existência
encontra-se posta ao mesmo tempo que o pensamento.» Não podemos conceber a
existência, nem eliminá-la, nem eliminar o seu pensamento. Reside aí o paradoxo
e, simultaneamente, a essência do pensamento existencial.
Uma vez que chegamos aí, que devemos fazer? Poderemos voltar às coisas «deste mundo» ? Foi o que Kierkegaard pensou e o que quis efectuar pela ideia de repetição. Trata-se de reencontrar «este mundo» depois de ter estado em contacto com o paradoxo, com o absurdo, com Deus.
Devemos escolher e devemo-nos escolher, escolhermo-nos tal qual somos, devemos assumir o próprio destino. é o que ele chama imediação amadurecida, que só pode existir quando se passou pela mediação divina. Devemo-nos escolher, mas simplificando-nos constantemente, pela própria paixão, pela paixão do próprio absoluto.
Trata-se sempre de se unificar, de se simplificar, porque o simples é mais elevado que o complexo. As crianças têm uma multidão de ideias, mas aquele que medita realmente, um Sócrates, por exemplo, só tem uma ideia. Aumentar os nossos conhecimentos, diz Kierkegaard, reencontrando uma fórmula neoplatónica, é muitas vezes diminuirmo-nos nós próprios.
Devemos entretanto acrescentar que, ao mesmo tempo, Kierkegaard sabe muito bem que ele próprio é feito de dualidades, de diversidades, de diversidades infinitas. Há assim em Kierkegaard um conflito entre esta vontade de unidade e esta multiplicidade quase infinita que ele sente em si.
A existência é a palpitação de uma vida intensa, o agudo extremo da subjectividade.
O pensador subjectivo torna-se um espírito existente infinito, torna-se um mistério por esta relação profunda em relação a si próprio e ao objecto da sua afirmação. (...)A existência é «ir sendo», a existência está sempre voltada para os possíveis e ao mesmo tempo para o que é a sua origem, para o que é originário. (...) O existente é o que se relaciona com si próprio e o que se relaciona com a transcendência.
Uma vez que chegamos aí, que devemos fazer? Poderemos voltar às coisas «deste mundo» ? Foi o que Kierkegaard pensou e o que quis efectuar pela ideia de repetição. Trata-se de reencontrar «este mundo» depois de ter estado em contacto com o paradoxo, com o absurdo, com Deus.
Devemos escolher e devemo-nos escolher, escolhermo-nos tal qual somos, devemos assumir o próprio destino. é o que ele chama imediação amadurecida, que só pode existir quando se passou pela mediação divina. Devemo-nos escolher, mas simplificando-nos constantemente, pela própria paixão, pela paixão do próprio absoluto.
Trata-se sempre de se unificar, de se simplificar, porque o simples é mais elevado que o complexo. As crianças têm uma multidão de ideias, mas aquele que medita realmente, um Sócrates, por exemplo, só tem uma ideia. Aumentar os nossos conhecimentos, diz Kierkegaard, reencontrando uma fórmula neoplatónica, é muitas vezes diminuirmo-nos nós próprios.
Devemos entretanto acrescentar que, ao mesmo tempo, Kierkegaard sabe muito bem que ele próprio é feito de dualidades, de diversidades, de diversidades infinitas. Há assim em Kierkegaard um conflito entre esta vontade de unidade e esta multiplicidade quase infinita que ele sente em si.
A existência é a palpitação de uma vida intensa, o agudo extremo da subjectividade.
O pensador subjectivo torna-se um espírito existente infinito, torna-se um mistério por esta relação profunda em relação a si próprio e ao objecto da sua afirmação. (...)A existência é «ir sendo», a existência está sempre voltada para os possíveis e ao mesmo tempo para o que é a sua origem, para o que é originário. (...) O existente é o que se relaciona com si próprio e o que se relaciona com a transcendência.
Jean Wahl, As Filosofias da Existência,
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