Baskiat
A arte é, não só um meio para bons estados de espírito, mas, talvez, o meio mais poderoso e directo que possuímos. Nada é mais directo porque nada afecta a mente de um modo tão imediato; nada é mais poderoso, porque não há um estado de consciência mais excelente ou mais intenso do que o estado de contemplação estética. Assim sendo, procurar outra justificação moral para a arte, procurar na arte um meio para algo aquém dos bons estados de espírito, é um acto de teimosia que só um tolo ou um génio cometerão.
Muitos tolos cometeram-no e um
homem de génio tornou famosa tal proeza. Nunca o carro se pôs tão
obstinadamente à frente dos bois como quando Tolstói anunciou que a
justificação da arte era a sua capacidade de promover boas acções. Como se as
acções fossem fins em si mesmas! Não há
virtude nem vício em correr, mas correr com boas notícias é louvável, e correr
levando a bolsa de uma velhinha não é. É sempre o fim em vista que confere
valor à acção e, em última instância, o fim de todas as boas acções deve ser
criar, encorajar ou tornar possível bons
estados de espírito. Assim, incitar as pessoas às boas acções por via de
imagens edificantes é um negócio respeitável e um meio indirecto para o bem.
Criar obras de arte é o meio mais directo para o bem que um homem pode
praticar. É precisamente neste facto que reside a imensa importância da arte:
não há um meio mais directo para o bem.
Por paradoxal que pareça, as
únicas propriedades relevantes numa obra de arte, julgada como tal, são as
propriedades artísticas (a forma significante): julgada como um meio para o bem
nem vale a pena considerar outras qualidades, pois, dado não haver melhor meio
para o bem do que a arte, não há qualidades de maior valor moral do que as
qualidades artísticas.
Clive Bell, Arte, Edições Texto e Grafia, pp.78,79 (adap)
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