quinta-feira, novembro 27, 2014

Freud. Os condicionamentos da cultura disfarçam mas não apagam a barbaria



Gustav Klint, Vida e morte, 1916


Vimos que a coerção externa, exercida sobre o homem pela educação e pelo meio ambiente, suscita uma ulterior transformação da sua vida pulsional no sentido do bem, uma viragem do egoísmopara o altruísmo. Mas este não é o efeito necessário ou regular da coacção exterior. A educação e o ambiente não se limitam a oferecer prémios de amor, mas lidam também com prémios de outranatureza, com a recompensa e o castigo. Podem, pois, fazer que o indivíduo submetido à sua influência se resolva a agir bem, no sentido cultural, sem que nele tenha realizado um enobrecimento das pulsões, uma mutação das tendências egoístas em tendências sociais.O resultado será, no conjunto, o mesmo; só em circunstâncias especiais se tornará patente que um age sempre bem, porque a tal o forçam as suas inclinações pulsionais, mas o outro só é bom porque tal conduta cultural traz vantagens aos seus intentos egoístas, e só enquanto e na medida em que as procura. Nós, porém, com o nosso conhecimento superficial do indivíduo, não temos meio algum de distinguir os dois casos, e o nosso optimismo induzir-nos-á decerto a exagerar desmesuradamente o número dos homens transformados pela cultura. (…)

A pressão da cultura noutros sectores não acarreta consequências patológicas, mas manifesta-se em deformações de carácter e na disponibilidade constante das pulsões inibidas para abrir caminho na ocasião oportuna para a satisfação. Quem assim é forçado a reagir permanentemente no sentido de prescrições que não são expressão das suas tendências pulsionais vive, psicologicamente falando, muito cima dos seus meios e pode qualificar-se objectivamente de hipócrita, seja ou não claramente consciente desta diferença. É inegável que a nossa cultura actual favorece com extraordinária amplitude este género de hipocrisia. Poderia arriscar-se a afirmação de que se baseia nela e teria de se submeter a profundas transformações, se os homens decidissem viver segundo a verdade psicológica. Há, pois, incomparavelmente mais hipócritas da cultura do que homens verdadeiramente culturais, e pode inclusive discutir-se o ponto de vista de se uma certa medida de hipocrisia cultural não será indispensável para a conservação da cultura, porque a aptidão cultural já organizada dos homens do presente não bastaria talvez para esta realização.

 


Sigmund Freud, Escritos sobre a guerra e a morte, 2009,  Tradução de Artur Mourão, Lusosofia press, Covilhã, Pág 13,

quinta-feira, novembro 13, 2014

Argumentação: um poder acessível




12 Angry Man é um filme de 1957 realizado nos EUA por Sidney Lumet. Trata-se de uma história de 12 jurados que têm de decidir se um jovem é culpado ou inocente do homicídio do pai. A situação inicial é a de que todos menos um concordam em considerá-lo culpado, o filme desenrola-se então dentro de um espaço fechado onde se joga a decisão que tem de ser tomada por unanimidade. O tempo do filme é o tempo real, duas horas. Em duas horas esgrimem-se razões e chega-se ao consenso. A incógnita é, quem convence quem e como.

No início, o veredicto de cada uma das personagens é o reflexo dos seus interesses mais imediatos, cada um com a sua história pessoal, deixando-se influenciar por ela a tal ponto que não vê ou não lhe interessa ver o lugar do outro, do arguido, aquele que estão a julgar. Mas a necessidade de discutirem por haver um discordante, leva 11 homens a pensar e, por isso, a mudar de opinião à medida que da análise das provas vão surgindo novos factos capazes de gerar uma "Dúvida Razoável".

Ora, esta "Dúvida Razoável" é suficiente para a absolvição mas não é suficiente para a condenação. Nenhum destes homens pode querer a verdade, não é da verdade que se trata mas da confiança ou descrença das provas, só podem analisar os factos e descobrir através deles outros factos que permaneciam ocultos, revelando outra história que sendo possível de ocorrer pode criar a dúvida. O campo da discussão é o campo do possível, do verosímil e do plausível, o justo campo onde só a argumentação tem poder. Por outro lado, estes homens estão constrangidos pelas circunstâncias, uma porta fechada, a obrigação de um consenso, discutir não é uma escolha, não há alternativa melhor. Prefeririam muitos deles ter dado um veredicto e ter ido fazer outra coisa, preferiam não discutir, porque na discussão há exposição e risco, há vencedores e perdedores como em qualquer campo de batalha. O problema é que saímos da discussão com dúvidas e não com certezas, e isso torna o risco pouco apetecível para a maioria de nós.


O desafio que aqui deixamos sobre este filme é o seguinte: A partir das pistas dadas descubra a profissão de cada uma das personagens.


sexta-feira, novembro 07, 2014

Novo desafio filosófico

A retórica é útil porque as coisas que são verdadeiras e as coisas que são justas têm uma tendência natural para prevalecer sobre os seus opostos. Assim, se as decisões dos juízes não forem aquelas que deveriam ser, a derrota tem de ser atribuída aos próprios oradores e por isso eles têm de ser censurados.
Além disso, nem mesmo a posse do conhecimento mais exacto torna fácil convencer certos auditórios daquilo que dizemos, pois a argumentação baseada no conhecimento implica a instrução e existem pessoas que não conseguiremos instruir. Nestes casos, temos de usar, então, noções que todos possuem enquanto modo de persuasão e argumentação. (...)
Além do mais, temos de ser capazes de utilizar a persuasão (tal como o raciocínio rigoroso pode ser utilizado) em lados opostos de uma questão - não para que na prática possamos utilizá-la de ambas as maneiras, pois não devemos levar as pessoas a acreditar naquilo que é errado, mas podermos ver claramente os factos e para que, se outro homem argumentar desonestamente, possamos refutá-lo. Em nenhuma das outras artes se retiram conclusões opostas: isto só acontece na dialéctica e na retórica. Estas duas artes retiram conclusões opostas imparcialmente. Ainda assim, os factos subjacentes não se prestam igualmente bem às perspectivas contrárias. Não, na prática, as coisas que são verdadeiras e as coisas que são melhores são, pela sua natureza, mais fáceis de acreditar e de provar.
Por fim, é absurdo sustentar que um homem deve ter vergonha de ser incapaz de se defender com os seus membros, mas não ser incapaz de se defender com o discurso e a razão.

DE QUEM É ESTE TEXTO? 

ACEITAM-SE SUGESTÕES. FILÓSOFOS, ESTUDIOSOS DE FILOSOFIA ARRISQUEM...CONFIRAM A AUTORIA. EM BOA VERDADE UM TEXTO QUE NÃO SE ESCUDE NA AUTORIDADE DE UM AUTOR É MUITO MAIS FRÁGIL MAS TAMBÉM MAIS ABERTO À DISCUSSÃO...

Desfeito o anonimato o texto é de Aristóteles, da obra a Retórica, como ninguém respondeu ao desafio o próximo desafio será mais atraente: Será que o actor Zeca vai voltar às Novelas? Será que vamos poder voltar a contar com os seus magníficos olhos azuis ou Adeus Zeca? Aguardam-se comentários...