"Paul sabia que o seu cavalo iria vencer o Derby. Pelo
menos, sentia a certeza de saber, e nunca se tinha enganado quando sentira
aquela certeza no passado. A convicção de Paul não se baseava no estudo da
forma dos cavalos. Nem ele via o futuro na revelação de uma visão. Na verdade,
o nome do cavalo surgia quando ele andava no seu cavalinho-de-pau de brinquedo,
para o qual ele já estava grande demais. Não que Paul ganhasse todas as
apostas (ou aquelas feitas em seu nome pelos adultos que compartilhavam do seu
segredo). Às vezes não tinha tanta certeza, e outras vezes não tinha a
mínima ideia e apenas arriscara. Mas nunca apostava muito nessas ocasiões.
Quando tinha certeza absoluta, entretanto, apostava quase todo o seu dinheiro.
O método até agora nunca o havia desapontado. Óscar, um de seus colaboradores
adultos, não tinha dúvida de que Paul possuía uma habilidade extraordinária, mas
não tinha certeza de que Paul realmente soubesse os vencedores. Não bastava que
Paul, até agora, sempre tivesse ganhado. A menos que soubesse porque tinha
acertado, as fundações das suas crenças eram instáveis demais para sustentar o
verdadeiro conhecimento. Entretanto, isso não impedia que Óscar apostasse o
próprio dinheiro nas dicas de Paul."
Tudo aquilo que sabemos pode ser chamado de conhecimento?
Muitas vezes o que, por qualquer motivo que seja, acreditamos ser verdade, não
passa de coincidência. Para entrar no campo das certezas, é necessária a
comprovação, a justificativa do porquê de ser ou não ser. A crença de Paul, que
nunca falhou, é verdade absoluta por ter sido verdade até hoje? É possível
provar que o seu cavalo venceria o Derby? Invariavelmente, a resposta para as
duas perguntas é não. Mas, na ausência de certezas, ligamo-nos ao que nos
parece mais seguro. E apostamos o nosso dinheiro nisso, mesmo que ainda haja dúvida.
O texto foi extraído do livro "O Porco
Filósofo". "O vencedor do cavalo-de-pau".
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