Pintura, Ana Teresa Fernandez
A experiência deve confirmar a propriedade dos corpos de maneira que a definição coincida com os fenómenos.
Galileu escreve numa carta a Carcarilhe (…) “Se a
experiência mostra que as propriedades que deduzimos encontram confirmação na
queda livre dos corpos, podemos afirmar, sem medo de errar, que o movimento
concreto da queda é idêntico ao que nós definimos e pressupusemos; se não é o
caso, as nossas demonstrações que se
aplicam à nossa única hipótese, não perdem nada da sua força e valor, tal como
as proposições de Arquimedes sobre a espiral não sofrem pelo facto de não
encontrar na natureza nenhum corpo ao qual se possa atribuir um movimento em
espiral”.
Aqui está enunciado um princípio
fundamental do pensamento científico moderno: o princípio fundamental que
estabelece a relação alternativa das hipóteses e da experiência. Para observar
a natureza o espírito humano desenvolve hipóteses que devem ser matemáticas,
logicamente conclusivas. As demonstrações matemáticas incidem sobre hipóteses.
O facto de serem conclusivas não dá, no entanto, qualquer indicação quanto à
existência rela na natureza, das relações tais como estas são vistas nas
hipóteses. As hipóteses só adquirem o carácter de leis naturais se são
empregues na experiência empírica e verificadas por ela. Hipóteses que são em
si lógicas, matemáticas, mas não correspondem a nada na natureza, não deixam de
concluir qualquer coisa, mas não constituem uma lei natural.
W. Heisenberg, La nature dans la Physique Contemporaine, Gallimard, 1962, p.99
Penso que descobrir um padrão nos
acontecimentos físicos, encontrar depois uma explicação possível e descobrir
como a poderemos comprovar é o trabalho que podemos reconhecer no conhecimento
científico. A confirmação da experiência é um passo fundamental ou
indispensável para a credibilidade científica e para a forma como esta pode reproduzir
o fenómeno em laboratório a partir do momento que conhece o seu funcionamento.
O papel da experiência pode não verificar a hipótese mas não é primeiramente
para isso que a experiência é necessária. Daqui decorre que algo que se usa com
determinado fim, é na acepção ou satisfação desse fim que encontra a sua
natureza. Contrariamente ao procedimento usual na ciência Popper propõe uma
finalidade na experiência que não é aquela pela qual ela é importante, se
considerarmos que a ciência é um conhecimento, isto é pressupõe que busca uma
explicação e ou uma descrição de como funcionam os elementos e os fenómenos,
essa explicação pode não ser verdadeira mas é suficiente para os podermos
manipular, reproduzir e sobre eles intervir. O registo prático do conhecimento
não pode ser separado da sua estratégia de procedimento e penso que Popper o
faz, fixa-se na lógica e esquece o
procedimento prático, tanto no sentido da lógica prática da descoberta
científica como no sentido da sua manipulação material dos fenómenos.
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