Em virtude da sua grande capacidade de adaptação e do seu
engenho notável, o homem pode aperfeiçoar de muitíssimos modos a forma pela qual
satisfaz as suas necessidades. Possui capacidade de criar o próprio meio, em
vez de ser obrigado, como no caso de outros animais, a sujeitar-se ao meio em
que se encontra. Dentro de cada sociedade existem maneiras especiais de
satisfação das necessidades. As origens dessas maneiras, regra geral, estão “perdidas na névoa dos tempos”
ou, como dizem os aborígenes australianos, “pertencem ao tempo do sonho”. Com
efeito, uma das coisas mais difíceis em Antropologia é traçar a origem de um
costume. De ordinário, não existe ninguém com idade suficiente para se lembrar da
sua origem porque, por via de regra, ele surgiu há muito tempo, muito antes da
tradição oral ou da história escrita.
A cultura representa a resposta do homem às suas
necessidades básicas. É o seu modo de se colocar à vontade no mundo. É o
comportamento que aprendeu como membro da sociedade. Podemos defini-la como o
modo de vida de um povo, o meio, em formas de ideias, instituições, língua,
instrumentos, serviços e pensamentos, criado por um grupo de seres humanos que
ocupam um território comum.
É esse meio feito pelo homem, a cultura, que todas as
sociedades humanas impõem ao meio físico e no qual todos os seres humanos são
adestrados. De tal forma se identifica a cultura com a própria vida que se pode
dizer perfeitamente não ser ela tanto sobreposta à vida quanto uma extensão da
mesma vida. Assim como o instrumento amplia e estende as capacidades da mão,
assim a cultura acentua e estende as capacidades da vida.
São os seguintes critérios pelos quais se reconhece a
cultura: (1) precisa ser inventada, (2) precisa ser transmitida de uma geração
a outra, e (3) precisa ser perpetuada na sua forma original ou duma forma
modificada. Ao passo que outros animais são capazes de um restrito comportamento
cultural, só o homem parece possuir uma capacidade virtualmente ilimitada de
cultura. O processo de criar, transmitir e manter o passado no presente é
cultura – a capacidade que o linguista norte-americano Alfred Korybski denominou vinculadora do
tempo. As plantas vinculam as substâncias químicas, os animais vinculam o
espaço, mas só o homem é capaz de vincular o tempo.
A cultura é a criação conjunta do indivíduo e da sociedade,
que interagem mútua e reciprocamente, para se servirem, manterem, sustentarem e
desenvolverem um ao outro.
A cultura, portanto, é o complexo de configurações mentais
que, em forma de produtos de comportamento e produtos materiais, constitui de
modo principal que tem o homem de adaptar-se ao meio total, controlando-o, mudando-o
e transmitindo e perpetuando os modos acumulados de fazê-lo.
A mudança evolutiva processa-se em todos os animais por
mutação e pelo armazenamento, nos genes, das mutações mais valiosas resultantes da adaptação. No homem, a mudança evolutiva também se processou dessa maneira, mas a adição
de um sem-número de mudanças não genéticas, que também representam mudanças
evolutivas sociais. Essas mudanças culturais ou de comportamento, não
genéticas, não estão armazenadas nos genes, porém na parte do meio feita pelo
homem, na parte aprendida, na cultura, nos instrumentos, nos costumes, nas
instituições, nas baladas, etc., nas lembranças dos homens, assim como em
outros dispositivos não genéticos de armazenamento e recuperação de
informações.
A natureza humana é o que se aprende do meio feito pelo
homem; não é alguma coisa com que se nasce. O ser humano nasce, isso sim, com
as possibilidades de aprendizagem, que, mediante o ensino adequado, podem ser
transformadas em capacidades unicamente humanas.
1 comentário:
Bela imagem.
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