" Os dias mais gloriosos da Grécia Antiga tiveram lugar no século V
a. C., ao longo de 50 anos de paz entre dois períodos de guerra. O
século começara com guerras entre a Grécia e a Pérsia e terminaria
com uma guerra entre as cidades-estado da própria Grécia. No período
intermédio, floresceu a grandiosa civilização de Atenas.
A Jónia, onde tinham surgido os primeiros filósofos, estivera sob o
domínio persa desde meados do século VI. Em 499, os gregos da Jónia
rebelaram-se contra o rei persa, Dario. Depois de esmagar a revolta,
Dario invadiu a Grécia para castigar os que tinham ajudado os rebeldes
a partir da metrópole. Uma força militar constituída sobretudo por
atenienses derrotou o exército invasor em Maratona, em 490. Xerxes,
filho de Dario, enviou uma expedição mais numerosa em 484, derrotando
um corajoso batalhão de espartanos nas Termópilas e forçando
os atenienses a fugir da sua cidade. Mas a sua armada foi derrotada
perto da ilha de Salamina por uma marinha grega unificada, e uma
vitória grega em terra, em Plateias, em 479, pôs fim à invasão.
Depois das invasões, Atenas assumiu a liderança dos aliados gregos.
Foram os atenienses que libertaram os gregos da Jónia, e era
Atenas, apoiada por contribuições de outras cidades, que controlava a
armada que assegurava a liberdade dos mares Egeu e Jónio. Aquilo
que começara como uma federação deu origem a um Império Ateniense.
Internamente, Atenas era uma democracia, o primeiro exemplo
fidedigno dessa forma de organização política. «Democracia» é, em
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grego, a palavra que significa o governo do povo; e a democracia ateniense
era um exemplo muito fiel de um tal regime. Atenas não era
como uma democracia moderna, na qual os cidadãos elegem representantes
que formam um governo. Em vez disso, cada cidadão tinha
o direito de participar em pessoa no governo, comparecendo numa
assembleia geral onde podia ouvir os discursos dos líderes políticos e
depois dar o seu voto. Para se ver o que isto significaria em termos
actuais, imagine-se que os membros do governo e da oposição falavam
na televisão durante duas horas, após o que era apresentada uma
moção e tomada uma decisão com base nos votos fornecidos por cada
espectador ao premir ou o botão do «sim», ou o botão do «não» no
televisor. Para tornar o paralelo rigoroso, teria de acrescentar-se que
apenas aos cidadãos do sexo masculino com mais de 20 anos seria
permitido premir o botão — mas não às mulheres, nem às crianças,
escravos ou estrangeiros.
Os poderes judicial e legislativo eram, em Atenas, atribuídos por sorteio
a membros da assembleia com mais de 30 anos; as leis eram aprovadas
por um painel de mil cidadãos, escolhidos apenas por um dia; e os julgamentos
mais importantes realizavam-se perante um júri de 501 cidadãos.
Até os magistrados — aqueles a quem cabia executar as decisões do governo,
quer fossem judiciais, financeiras ou militares — eram maioritariamente
escolhidos por sorteio; apenas cerca de 100 eram eleitos.
Nunca antes ou desde então os cidadãos comuns de um Estado
participaram tão activamente no seu governo. É importante ter isto
presente quando lemos o que os filósofos gregos diziam acerca dos
méritos e deméritos das instituições democráticas. Os atenienses afirmavam
que a sua constituição era contemporânea das reformas de
Clístenes de 508 a. C., e esse ano é muitas vezes considerado o do
nascimento da democracia.
A democracia ateniense não era incompatível com a liderança aristocrática.
No seu período imperial Atenas foi, por escolha popular,
governada por Péricles, sobrinho -neto de Clístenes. Péricles instituiu
um ambicioso programa de reconstrução dos templos da cidade que
tinham sido destruídos por Xerxes; ainda nos dias de hoje vêm visitantes
dos quatro cantos do mundo para ver as ruínas dos edifícios que
Péricles erigiu na Acrópole, a fortaleza de Atenas. As esculturas com as
quais estes templos foram decorados encontram-se entre os objectos
mais preciosos dos museus pelos quais estão hoje espalhadas. O Parténon,
o templo em honra da deusa virgem Atena, foi construído como
oferenda pelas vitórias nas guerras pérsicas. Os mármores Elgin que
estão no Museu Britânico, trazidos das ruínas desse templo por Lorde
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Elgin em 1803, representam um grandioso festival ateniense, o das
Panateneias, que Parménides e Zenão tinham presenciado na época
em que se iniciavam as obras de construção. Quando o programa de
Péricles se completou, Atenas não tinha rival no mundo inteiro no que
dizia respeito à arquitectura e à escultura.
Atenas também tinha a primazia no teatro e na literatura. Ésquilo,
que tinha combatido nas guerras pérsicas, foi o grande autor na área
da tragédia; trouxe para o palco os heróis e heroínas da épica homérica,
e a sua reconstituição do regresso e assassinato de Agaménon ainda
nos fascina e horroriza. Ésquilo levou também à cena as catástrofes
mais recentes de que o rei Xerxes tinha sido vítima. Dramaturgos mais
novos, como o conservador e piedoso Sófocles e o mais radical e céptico
Eurípedes, estabeleceram os padrões do teatro trágico. As peças de
Sófocles acerca do rei Édipo, assassino de seu pai e esposo de sua mãe,
e o retrato que Eurípedes faz de Medeia, assassina de crianç as, não só
fazem parte do reportório do século XX, como ainda perturbam a mentalidade
contemporânea. A historiografia propriamente dita começou
também neste século, tendo as Crónicas das Guerras Pérsicas, de
Heródoto, sido redigidas nos primeiros anos do século, e a narração
que Tucídides faz da guerra entre os gregos, nos últimos. "
Anthony Kenny "História concisa da filosofia ocidental" p.45,46 e 47