Fotografia de Olivia Arthur
Primeiro tópico é que a Filosofia é tão subsidiária da Lógica e da Literatura como o é da Lógica. Sendo assim, seria importante estudar História, Literatura e Lógica quando se estuda Filosofia. A ordem seria aleatória, as três são estruturantes. Estruturantes como? Parecem palavras vazias e são, de tal modo são usadas sem freio pois adaptam-se a tudo; uso o termo como referindo aquilo sobre o qual se constrói, a partir do qual se constrói algo. Mas se a Filosofia é o edifício cujo tijolo é a História, as vigas de aço a Lógica e os pormenores ou acabamentos Literatura, então ela é uma casa que se torna habitável se não descurarmos nenhuma destas formas de análise e expressão. Ninguém chama casa a um conjunto de vigas, ou a um conjunto de acabamentos ou a um conjunto de tijolos. A disposição e o modo como se combinam e a necessidade da combinação é que fazem verdadeiramente a originalidade e beleza ou elegância da casa que construímos. Vem este preâmbulo a propósito da insistência no tratamento padronizado da Lógica para todo o tipo de questões filosóficas. Trata-se a "Linguagem" e os "Argumentos" como se fossem algo descontextualizado e possivelmente formalizado numa linguagem objectiva previamente convencionada. Ora, essa forma de "fazer" Filosofia ou de pensar filosoficamente é redutora e, na minha perspectiva, pouco adequada ao Ensino Secundário pois retira à Filosofia aquilo que a torna criadora e próxima do que verdadeiramente interessa, as ideias e os factos que nos são próximos e a forma plural e diversificada que temos de os pensar e de construir novas narrativas sobre eles. Ora esta visão que está a ser imposta no Ensino Secundário, tanto nos novos programas das chamadas "Aprendizagens essenciais", como nos manuais que grassam por essas editoras está progressivamente a tomar o ensino da Filosofia e tende a unificar em práticas metodológicas estereotipadas essa capacidade de fazer mundos que, na minha perspetiva, é a Filosofia.Helena Serrão