Paul D'Amato, EUA, 1989
Durante muito tempo os EUA foram conhecidos como um Melting Pot, querendo com isso dizer-se que havia lugar para
todos viessem donde viessem, que todos eram bem recebidos e que a pouco e
pouco as diferenças culturais se iriam esbatendo a favor da «nova realidade
cultural». Muitos americanos ainda acarinham essa ideia mas para muitos outros ela
é uma ilusão e até um insulto. (…) Hodiernamente, mesmo entrea queles que
pertencem à cultura dominante existe a consciência de que esta situação causa
danos ao conceito de cultura americana. A questão é o que fazer para a
resolver. Alguns defensores do multiculturalismo (teoria que advoga a
necessidade de assegurar representação no espaço público – universidades, meios
de comunicação, política – aos diversos grupos culturais) propõem que devemos
começar por nos ouvir uns aos outros. A esta versão do multiculturalismo
chamarei multiculturalismo inclusivo.
Mais tolerância e compreensão entre os vários grupos culturais é o que parece pretender-se, maior igualdade de oportunidades
e um trabalho conjunto que combata a ideia de que uma tradição cultural domina
o país e aqueles que não a partilham deve ser marginalizados. Este trabalho
deve começar nas escolas onde as crianças devem aprender o máximo possível
sobre as heranças culturais do maior número possível de grupos étnicos e
sociais. (…)Muitos dos proponentes do multiculturalismo adotam o relativismo
moral. Contudo, para surpresa de alguns, o relativismo não garante
necessariamente o multiculturalismo.
O relativismo ético afirma que não há um código moral
universal –que cada cultura escolhe o que é correto para si e nenhuma outra cultura
tem o direito de interferir. Esta ideia, ainda que com várias limitações, pode
funcionar quando as culturas estão separadas e isoladas porque nesse caso o
código moral é definido como o código da população dominante. Porém, numa
sociedade pluralista como a americana, é difícil funcionar porque a cultura
dominante (a sociedade branca) é cada vez mais acusada de insensibilidade à
diversidade cultural. Pode o relativismo moral funcionar num país em que nos
deparamos frequentemente com valores opostos (Roubar é errado e Roubar é
moralmente correto para os desfavorecidos) no mesmo bairro? Dado que o relativismo
exige que rejeitemos a ideia de um padrão cultural dominante, alguns poderão
optar por uma atitude de niilismo moral: nenhum valor é melhor do que outro dado que nenhum
valor é objetivamente correcto. Tal niilismo pode conduzir à desagregação do todo social e,
possivelmente, a uma maior coesão no interior de cada grupo cultural,
acentuando-se o conflito entre eles. Podemos descrever este conflito como balkanização: os grupos culturais têm pouco ou nada
em comum exceto o ódio pelo que outros grupos representam. Parece que o
relativismo moral não é a resposta aos novos problemas do multiculturalismo.
E se procurarmos a resposta no universalismo moderado? Se formos
universalistas moderados o que podemos esperar? O acordo com os outros grupos
acerca de certas questões, mas não em todas as questões. No caso do multiculturalismo podemos concordar com a promoção
da igualdade, da tolerância e da coesão da nação. Se não chegarmos a um cordo nisto, o
multiculturalismo (inclusivo) é uma causa perdida, assim como a ideia de
Estados Unidos. Segundo o universalismo moderado – proposto entre outros por
Rachels não podemos permitir uma diferença
acentuada nos valores e princípios que regem a convivência social. Não podemos admitir que matar membros de
uma família por uma questão de honra seja inaceitável num bairro e aceitável noutro.
O problema da possibilidade de um núcleo de valores comuns no interior de uma
sociedade multicultural é particularmente urgente e escaldante. Sem
valores comuns muito simplesmente não há sociedade.
Nina Rosenstand, The Moral of the
Story – An introduction to questions of ethics and human nature,(1993),
Mayfield,pp 80-81(Traduzido e adaptado por Joana Inês Pontes)
Sem comentários:
Enviar um comentário