Há mais de 40 anos, Jean-Philippe Beau-Douëzy, ecologista e
engenheiro consultor na área do ambiente, iniciou-se naquela que viria a
ser a sua luta pela conservação da natureza. Hoje, quer continuar a
plantar árvores nativas porque diz serem o futuro da humanidade. Há 11
anos que trabalha na Fundação Yves Rocher, em França, onde é
administrador do programa Plant for the Planet que consiste na plantação
de 100 milhões de árvores em vários continentes com o objectivo de
combater a erosão do solo, a perda de biodiversidade e recursos hídricos
e para ajudar a agricultura local.
Jean-Philippe Beau-Douëzy, que esteve recentemente no Porto,
já percorreu vários pontos do planeta. Passou pelo Sara, pelo
Mediterrâneo, mas foi na Amazónia brasileira – onde chegou a ser
baptizado por índios – que ganhou um novo pressuposto: o de lutar pela
sua conservação. Em 1992, participou na Cimeira da Terra no Rio de
Janeiro, mas, antes disso, em 1978, já organizava um dos primeiros
simpósios com o tema Invenção Social e Ecologia Urbana, conceitos de que
tanto se fala hoje em dia.
Que questões se discutiam em 1978 e que ligação têm hoje com
as preocupações sobre a sustentabilidade e a eficiência das cidades?
Interessante que a conversa é a mesma. As questões são as mesmas,
mudou a situação, que piorou. Por exemplo, naquela época a situação do
mar não era a de hoje, não tinha tanto lixo. A situação na Amazónia não
estava como hoje, estava muito menos desmatada, claramente. Também a
biodiversidade não tinha a loucura de desaparecimento de hoje. As
questões não mudaram, são as mesmas: o consumo de energia, o lixo. Por
isso, o importante é fazer e não discutir. Não é preciso falar mais, tem
que se fazer. Temos muitas áreas degradadas, muita terra degradada.
Como se aplica a todo o planeta uma política capaz de gerir e conservar o ambiente?
A
questão não é política, a questão são as pessoas. A real pergunta é:
será que as pessoas, hoje em dia, são capazes de entender que têm que
plantar uma árvore? Se cada humano neste planeta for plantar uma árvore
já vai mudar alguma coisa. Os políticos só falam e acabou. A
responsabilidade é de todos nós. Cada um pode fazer e tem de fazer.
Nesse contexto, até que ponto temos de mudar a forma como vivemos?
Vamos
ter de mudar e de nos adaptar com certeza. Especialmente no ocidente,
onde temos um gasto enorme e temos, sempre, um consumo incrível. Há dois
lados que têm de mudar: consumir menos e melhor e mais produtos locais.
O comércio local deve ser apoiado.
Já reparei que em Portugal há
muito a tradição de ter uma horta em casa – isso é muito bom e tem de
continuar, é um bom caminho. Em França as hortas desapareceram. As
pessoas compram verduras, até as biológicas, no supermercado. Isso é um
absurdo. As verduras que se encontram no supermercado fizeram mil ou
dois mil quilómetros para lá chegar e isso é um gasto brutal para o
ambiente.
Entre todas as problemáticas ambientais, qual é a que mais lhe interessa? Porquê?
Sabemos
que as mudanças climáticas existem e que têm efeitos na corrente do
Golfo, efeitos visíveis. Estas mudanças climáticas e outras actividades
humanas têm um efeito incrível na qualidade do solo, da terra, mas nós
precisamos dela para nos alimentar.
Temos perdido muita terra por
causa da erosão e da salinização dos solos e o que pode proteger e
reconstituir a terra são as árvores. Elas são a verdadeira fábrica do
solo. Hoje, continuamos a fazer a desflorestação e a monocultura da
plantação de árvores – o que não presta, nenhuma das duas. Nenhum dos
casos vai ajudar e ainda piora se usarmos árvores como pinheiros ou
eucaliptos. As folhas do eucalipto têm um processo de decomposição muito
lento e vão deixar a terra em más condições a longo prazo. Devem ser
plantadas árvores nativas porque estão adaptadas ao solo. É preciso
plantar uma árvore no coração das pessoas.
Acha que a tecnologia vai alguma vez conseguir vencer tudo aquilo que as árvores nativas fazem pelo nosso planeta?
A solução não é a tecnologia. A tecnologia está na moda e parece que
vamos consertar a natureza com a tecnologia. Só que a única coisa que
conseguimos fazer com a tecnologia foi acabar com muito do ambiente.
Ainda temos muito a aprender com a natureza. Isto não quer dizer que a
tecnologia não possa ajudar, mas a primeira coisa é estudar. Ainda não
estudámos todos os pontos de como funciona uma floresta. As árvores são
capazes de fotossíntese e nós não conseguimos replicar isso com
tecnologia, até agora. Fazemos painéis solares muito poluentes, com
muitos gastos. Não há comparação com o que faz a natureza. Além disso, é
preciso perceber que o que é mais barato para parar o CO2 [dióxido de
carbono] são as árvores.
O factor económico também é, por isso, importante?
Hoje
em dia também tem de se considerar esse ponto. Mas não podemos pensar
que vai ser só crescimento económico. Por exemplo, os eucaliptos têm uma
saída económica muito fácil que é o fabrico de papel. Mas, a longo
prazo, será que necessitamos de mais papel? Temos tanto papel no planeta
que podemos reciclar. Os eucaliptos não vão conservar o solo e é
preciso ver se há outras culturas que se possam encaixar de um ponto de
vista mais ecológico.
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terça-feira, dezembro 04, 2018
Futuro da humanidade depende das árvores, a “verdadeira fábrica do solo” .
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2 comentários:
A autodestruição faz parte da raça humana.
As pessoas tem que entender que a função dos politicos é ofertar meios e condições para elas agirem. Mas, acontece o contrario, a maioria fica esperando que os politicos resolvam todos os problemas. Esse é o unico problema.
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